machado de assis

"o menino ensina o homem"

enrolando

pronto. agora não tem mais jeito. essa semana tenho vários trabalhos para entregar. acabou o ócio tempointegral. agora é ver se a proposta do ano novo consegue ficar de pé. colocar em prática a história de trabalhar com mais sabedoria, dosando o trabalho e o lazer. separando o escritório da casa. tendo tempo para ler todas as noites, estudar, ir ao cinema, ouvir música, ver dvd, fazer sopinha, conversar, fazer ioga no tapete da sala da varanda. conversar com as plantas, organizar os pensamentos e os sentimentos, escrever no caderninho de sonhos. mas para isso, preciso parar de enrolar e, quando sentar para trabalhar, trabalhar e não ficar navegando, borboleteando pela internet.
olho o olho do outro,
penso o que ele pensa.
voltar a mim é a minha
diferença.

olho o ralo até turvá-lo,
penso que ele não pensa.
ir com a água é a minha
recompensa.

arnaldo antunes

quem será essa pessoa que vive nessa casa?

 sempre me pergunto isso, quando vejo uma casa pela janela!
TAO VEZ

arnaldo antunes

sentada à beira do caminho

viajar de carro

viagem de avião, você vai para o aeroporto, pega fila, faz check in, despacha bagagens, pega a fila da polícia federal (quando o destino é além das fronteiras brasis) mostra o passaporte, mostra o visto, vai para o saguão, espera a moça da companhia aérea chamar para o embarque, embarca, senta apertada na sua cadeira rezando para que a cadeira do lado esteja vazia, aperta o cinto, pega o livro que você separou para ler, pega o caderninho com a caneta para escrever seus sonhos, ideias e pensamentos, se acomoda maximamente no espaço mínimo que separa sua cadeira da cadeira do vizinho da frente (sua fronteira dentro de uma aeronave é ridícula) espera a decolagem e alcança as alturas. aí quando você pensa que vai desligar, ainda está pensando no que deixou para trás, na casa (será que está tudo certo?), nos pertences da mala (será que eu não esqueci de nada super importante?) no trabalho (será que o cliente gostou?), no que vai fazer na volta... enfim, você demora para desligar. por mais coisas que você faça entre o sair de casa para ir até o aeroporto e entrar efetivamente numa camada mais alta do ar, você não desliga totalmente. você ainda fica aterrada. já viajar de carro é o contrário. assim que você coloca o pé na estrada o seu pensamento fica única e exclusivamente voltado para a estrada à sua frente, para o caminhão, para o carro apressadinho que gruda atrás do seu retrovisor, no mapa que guia a próxima parada. viajar de carro é uma experiência de atenção consciente. você esquece na hora tudo que ficou para trás. e por isso, é uma vivência budista. eu recomendo.

os livros da viagem

levei na mala:
gaston bachelard (o ar e os sonhos e a água e os sonhos)
michel onfray (o ventre dos filósofos)
mia couto (o fio das missangas)
paul auster (invisible, sunset park)
ligia fagundes telles (verão no aquário)
machado de assis (dom casmurro)
keith richards (biografia)
dr hermóstenes (yoga e autoperfeição)
a bíblia do yoga.

li machado, li mia couto, paul auster, michel onfray. folheei dr hermóstenes e gaston bachelard.
mas com quem eu me diverti mesmo no final foi com Agatha Christie, um pocketbook que a minha tia tinha levado para ler, terminou num dia e me passou. eu fiquei embalada na rede com ele, até o fim.
apaixonada, dormindo de conchinha...

as férias me lembram um belo romance policial.

engatando?

sempre fui assim. nos primeiros dias pós-férias me dá uma vontade louca de só viajar, de trabalhar menos, de poder ir à tarde na lavanderia levar o vestido para lavar. arrumar os armários vagarosamente. olhando para cada peça e imaginando um possível futuro para ela - "será que ainda vou usar?" será que já passou seu tempo comigo, querida?" "quando usei essa blusa?" no aniversário da Karla de 40 anos. estava tão boa a festa... - e por aí vão os devaneios. quando eu percebo passou o dia inteiro e eu só arrumei uma partinha minúscula. aí pinta um certo cansaço e vou deitar um pouco para ler (afinal leio tão pouco nos dias comerciais) e quando olho para o lado já é noitinha. o dia desce suas cortinas de luz e recebe a noite. aí fatalmente vem a culpa. "nossa eu deveria ter trabalhado um pouquinho", 'tudo bem, a semana que vem eu começo". "faz de conta para o mundo que ainda não cheguei, que ainda estou de férias, que ainda não sou aquela do ano passado, que só trabalhava e que, se os deuses permitirem e eu souber me reinventar, não serei mais."