palavras de lua

você me deu um sertão
eu te dei um céu de cinza.
de gente que vive lá em cima
você me deu o agreste
a praia doce e morna
que enfeita o nordeste
suas infâncias de bicicleta,
manhazinhas e passarinhos.
eu te dei o rio das minhas
memórias
histórias.


sobre a morte

hoje morreu o filho de um casal de conhecidos. muito triste, 28 anos, auge da carreira, recém-casado e com um filhinho de 10 meses. estava em londres e provavelmente morreu de um ataque fulminante. e, por causa dele, chegou até mim um texto magistral de Santo Agostinho.

publico aqui:

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.

Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.

A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria for a de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas, 
não chores mais.

o tempo

tantas mudanças em tão pouco tempo.

quando comecei a trabalhar, em 1986, ainda usava máquina de escrever, olivetti lettera 82. trabalhava numa produtora de vídeo, e fazia produção e roteiros. era tudo na máquina, no telefone e nas conversas com as pessoas que ficavam ao meu lado. não tinha essa facilidade de pesquisa que é a internet. quando precisava me aprofundar em algum assunto, tinha que ir na Livraria Cultura do Conjunto Nacional ou na Biblioteca Mario de Andrade. ali, pesquisava livros e mais livros. muitas vezes era viagem perdida, não encontrava o que estava procurando, mas como eu gostava daqueles programas. aprendia tantas outras coisas.

e engraçado como dava tempo. eu trabalhava as 8 horas por dia. eu pegava ônibus para ir pro trabalho, que ficava no Itaim. pegava ônibus para voltar para casa, que ficava em Perdizes. às terças e quintas, fazia jazz depois do expediente e chegava em casa e jantava, conversava no telefone, lia, desenhava.... tudo rolava. isso sem falar nos dias que eu ia direto pro cinema, no Belas Artes da Consolação. depois pegava o ônibus na Paulista para ir para casa.

quando eu entrei na agência de propaganda - mudando do jornalismo para publicidade - eu trabalhava na criação em uma salinha só minha e do Rodrigo, meu dupla. na agência havia várias salinhas, cada uma com uma dupla de criação. ali criávamos nossos anúncios, campanhas, folhetos e quando tinha
um projeto maior, o diretor de criação juntava as duplas na sala de reunião e ali todos davam suas ideias. cada redator levava sua máquina de escrever e os diretores de arte levavam seus blocos de papéis A3, seus lápis, grafites, canetas coloridas, pastéis e ali começava a se esboçar os desenhos e textos. depois essas ideias iam para o estúdio de ilustração e finalização, uma sala enorme com 18 pessoas. tinham uns dois ilustradores-chefe, seus assistentes, os past-ups, os diagramadores, etc... fiquei nessa agência durante 5 anos... e nesse tempo, vi chegar os computadores, vi o estúdio diminuindo, e quando saí, no estúdio só haviam duas pessoas, o chefe, o Ed, que tinha aprendido a mexer no computador e o ilustrador, que se chamava Waltinho. esse era um craque no desenho. todos os outros foram demitidos.

hoje eu trabalho mais do que 8 horas. raramente vou à Livraria Cultura do Conjunto Nacional durante o expediente. faz anos que não piso na biblioteca Mário de Andrade. não faço mais jazz às terças e quintas, também não consigo ir ao cinema durante a semana e mesmo assim me falta tempo.

onde foi que o tempo foi parar?

amor e saudades

na véspera do dia da morte do lobinho, meu cachorro que morreu em dezembro, deixei que ele ficasse deitado embaixo de uma árvore no jardim do meu prédio. ele ficou lá a tarde toda. pois ontem, um mês depois, fui passear com a nina nesse jardim e de repente ela começa a cheirar o lugar onde o lobinho ficou. ela cheirou, cheirou, olhou para mim e chorou.

a nina chorou ao sentir o cheiro do lobinho.

frases que me inspiram

'toda alegria quer a eternidade'
nietzsche

virose?

domingo fiquei de cama, com uma super virose que atacou meu estômago. hoje ainda me ressinto. 'sem coragem para nada'. levanto e deito, tomo água e durmo um pouquinho. vira e mexe eu tenho dessas coisas. acho que é meu corpo pedindo para mudar. seja alimentação, seja não-sei-que. o fato é que nesses dias eu me sinto com uns 10 anos de idade e pedindo colo para minha mãe.

é que quando eu era pequena eu até que gostava de pegar uma gripinha e ficar de cama. além de não ter que ir na escola, podia contar com um colo mais acalorado da minha mãe. ficar mal do corpo me puxa para dentro das memórias. e lá fico revirando meu passado.

memórias do teto

quando eu era adolescente tinha dois sonhos, viver no rio de janeiro nos anos 50 e viver na Inglaterra em algum tempo bem passado. eu achava que havia pertencido àqueles dois mundos em outras encarnações das memórias.

mundos tão distintos.

um solar, bossa nova, nelson rodrigues, copacabana, as velhinhas e velhinhos, com suas roupas engraçadas e cabelos coloridos, tom jobim e vinicius ali mesmo na esquina de ipanema, o juba e o lula do Armação Ilimitada e todos os surfistas seus amigos, paquetá e a moreninha, a urca, a gávea, o jardim botânico, a corte.

outro londres, stonehenge, agatha christie, cornuália, merlin, todos os cavaleiros da távola redonda enfileirados, o santo graal, as ruazinhas medievais, o frio, a lareira, os cakes (não os cup cakes que naquela época nem existiam), as geléias, as tias  personagens dos livros de mistério, sherlock holmes, todos os verbos de inglês que eu tinha que decorar e estudar.

eu lembro que deitava na cama e me transportava literalmente para esses dois mundos. nenhum outro. só esses dois universos, com todos os seus habitantes e atmosferas. neles,  vivia minhas histórias. criava encontros, personagens, encantos.

disso sinto falta. daquela capacidade infinita de olhar para o teto e sonhar. imaginar, criar.
o teto era um portal.

mar

amar o mar

desejos para 2012

concentração e celebração

a volta

voltar para a rotina ressignificada. voltar para a rotina depois de dias de descanso. dias de nada. dias de tudo. dias de ler, ler, ler, andar, andar, andar. namorar. dias de comer diferente, beber diferente, dormir diferente. como férias é fundamental! mas como voltar fica cada vez melhor. a cada ano que passa, gosto mais de voltar para minha casa, minha cama, meu chão.

mar

o mar é uma poesia.
sempre.
sou feliz para sempre de frente pro mar.

ideia de cidade

todo dia poder andar na praia ao acordar. todo dia colocar o pé na areia. todo dia olhar para o mar, tocar o mar, entrar no mar. desse jeito o dia todo fica bom.

os outros são espelhos

nos enxergamos no outro. reflexos positivos e negativos. do meu caso, as imagens positivas me trazem pessoas generosas, que gostam de ajudar o outro, que se preocupam com o outro, ou como se diz em inglês "put themselves in others shoes". esse é o meu lado libriano, que acredita nas pequenas gentilezas, nas delicadezas dos sorrisos, das flores, dos gestos.

já as imagens negativas me trazem justamente o oposto. pessoas tristes porque não se compartilham,
se fecham em si mesmas. e aí são egoístas, indelicadas, agressivas. esses comportamentos - que naturalmente todos trazem em si, como eu trago em mim - não quero mais. quero evoluir no sentido do compartilhamento. quero prosseguir no meu processo de abertura.

creio no amor, no sorriso e na flor.
sou bossa nova.

2012

feliz ano novo. feliz ano todo. para todos.
segundo a astrologia será um ano muito movimentado. passará assim, como num piscar de olhos ou num estalar de dedos. será regido pela lua, o que nos fala para ficarmos atentos à nossa percepção, intuição e sensibilidade. alguns movimentos importantes dos planetas também sugerem as mudanças que estão nas profecias de várias culturas. dizem que 2012 nos traz o fim do mundo. seja lá o que isso quer dizer. eu acredito que já estamos no fim de um ciclo subjetivo e objetivo, com vários padrões de comportamentos que estão falindo. e, como sou muito otimista, acho que estamos indo para um mundo melhor. com relações mais equilibradas entre as pessoas, entre as pessoas e o planeta, entre as pessoas e o consumo. essa é minha crença, minha esperança.
feliz ano novo. feliz ano todo. para todos