simonga

quando eu era pequena, sofri nas mãos dos meninos da escola. sempre fui meio mandona, o que me trazia uma porção de amigos e um bocado de inimigos. era passional, cheia de opinião e ao mesmo tempo de uma baixa autoestima assombrosa. qualquer coisa que falavam de mim - ou achava que falavam - me calava e demorava algum tempo para me autocurar. ficava no meu quarto, olhando para o teto, negociando com meus monstros e botões, até que cansava daquilo tudo, levantava e pronto. passava. mas teve um xingamento (hoje chamam de bullying) que eu nunca esqueci.

estava na aula de educação física correndo em círculos em volta da quadra esportiva. era aula só das meninas, os meninos ficavam olhando ou fazendo qualquer outra atividade que não me lembro. o fato é que nesse dia, eles estavam enfileirados olhando e mexendo com todas as meninas que passavam na frente deles. só na antecipação de alguma coisa ser dita para mim, fiquei tão nervosa que fui para o chão. caí, assim, bem na fuça deles, totalmente entregue ao medo e à aflição. pois nesse exato instante da queda, ouvi do meu maior inimigo: Simonga, Simonga!!!! eu me paralisei.

por muitos anos, não me esqueci dessa história. vira e mexe aparecia a cena do Isnard (o nome do inimigo) e sua voz berrando no meio da escola e todos os outros meninos morrendo de rir.

até que....

muito anos depois, trabalhava numa agência que eu adorava. gostava de todos os meninos da criação, meus companheiros de muitas campanhas, muitas noites mal dormidas, muitos chopps no Filial. pois bem, um deles, o Fábio Cardoso (um dos meus preferidos), carioca, boa praça, rápido na voz e nos vocabulários engraçados, contou uma história de uma namorada dele que se chamava Simone e que era tão burrinha, mas tão burrinha (apesar de lindinha) que ganhou o apelido de Simonga. quando eu ouvi, imediatamente, uma luzinha vermelha acendeu dentro de mim.

perguntei: mas ela não ficava triste?
ele: ela??? imagina!!!! ela morria de rir!!!

caí numa espécie de gargalhada histérica.
hoje tenho certeza que foi naquele instante que me curei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário