o início, o fim, o meio

fui na pré-estréia do documentário do Walter Carvalho sobre a história do Raul Seixas. foi no cine Marabá, na Ipiranga. chegamos um pouco atrasados e na porta, uma multidão de fãs e covers. passei por vários rauls, alguns cantavam músicas, outros carregavam faixas: raulzito não morreu. tinham motos, um caminhãozinho, parecia um daqueles encontros anuais de covers do Elvis, que acontecem no meio-oeste americano. um acontecimento no centro de São Paulo.

entramos e as salas estavam lotadas. convidados por todos os lados, nas cadeiras, no chão, em pé.

o documentário é uma preciosidade.

uma edição vertiginosa mostra a trajetória do baiano que morreu
aos 45 anos, acabado em álcool, cocaína e éter.
mas enquanto viveu foi uma potência visceral.
uma força da natureza, como foram janis, jimi hendrix, jim morrison.

raul era rock.
raul era puro. 
desde menino, já tinha atitude e topete de star.
tinha cheiro de flor, como disse uma de suas mulheres.
cheirava doce, disse a outra.
só bebia para compor, contou um parceiro.
o outro - paulo coelho - afirmou que o maior parceiro do raul foi o próprio raul.
caetano falou e tocou lindamente.
paulo coelho foi corajoso e generoso em suas palavras.
nelson motta foi delicado, como sempre.

raul - o início, o fim e o meio, traz à tona uma questão que emerge nos tempos atuais: em um mundo marcado por celebridades fakes, por falta de substância e força, relembrarmos pessoas de verdade soa como uma volta à vida com real entrega, com intenção, com criatividade. uma vida com propósito, sem Big Brothers, sem celebridades instantâneas.

raul era de verdade. e que saudades que dá de pessoas de verdade.
elas não morrem.



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