crônica de uma cidade.
saí de alphaville às 12h15 depois de uma reunião longa e improdutiva. peguei o carro e voltei correndo para SP pois tinha almoço com uma amiga. no meio do caminho percebi que estava com pouquíssima gasolina, mas como não vi um posto na estrada continuei (e como estava perto de São Paulo, com certeza o combustível daria até chegar num posto). estava com o ar-condicionado ligado e o CD do Chico no som. cantava loucamente quando entrei na marginal, aí apareceu a visão do inferno: tudo parado. digo, tudo absolutamente parado. milhões de carros enfileirados. sem saída. sem horizonte. sem solução. estava presa num turbilhão de metal e motores. foi quando olhei para o marcador de gasolina. o nível havia caído absurdamente. estava na parte debaixo da linha que demarca a parte final da reserva. e eu ali. desliguei o ar, baixei o som e fiquei imaginando possibilidades tenebrosas.
e se acabar a gasolina agora? o que eu faço?
não tem posto, não tem rua, não tem calçada, não tem acostamento. abri a janela. vi um monte de vendedores. fiquei com um pouco de medo. subi o vidro, deixando só uma frestinha. comecei a suar. suar e imaginar o fim total da gasolina. eu andando de salto alto e vestidinho no meio da marginal.
cadê o posto?
a fileira de carros andou um pouquinho. uns dois metros, calculei. só primeira. jamais segunda ali. suei mais, sofri mais. resolvi respirar um pranaiana. yoga sempre ajuda. andamos mais um pouquinho. nada significante. depois de meia hora parada, andamos vagarosamente. vi um posto!!!
do outro lado. fiz uma reviravolta increivel, consegui abrir espaço entre os carros e chegar. nossa que alívio! embiquei ao lado da bomba, absurdamente relaxada. abri a janela e pedi para ele colocar apenas 20 reais de gasolina.
desculpe, moça, mas estamos sem gasolina.
e álcool?
nada, não temos nada.
moço, peloamordedeus, eu preciso nem que seja de dois litros.
não temos, moça.
onde tem outro posto?
ali na frente mas também está sem gasolina. agora só depois da Ponte da Eusébio Matoso.
mas, moço, nós não chegamos na ponte do jaguaré ainda! pois é!,
a culpa é do Kassab!
saí de lá resignada e fui até o outro posto. na praça panamericana. nada de gasolina. mas pelo menos eu havia saído da marginal. o meu drama máximo, minha pior imagem mental, de andar por entre os carros de salto alto e vestidinho tinha acabado. naquela altura, mesmo que a gasolina acabasse, eu estava no meu território.
consegui chegar num posto onde tinha álcool. abasteci e cheguei no meu escritório 40 minutos
depois do marcado. fui almoçar ainda esbaforida.
à noite eu estava exausta. cheguei em casa ainda mal com essa experiência.
um dia normal numa cidade que é absolutamente insana.
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