faxina

sempre gostei de fazer faxina. abrir gavetas, mexer em papéis, desvendar armários, roupas, blusas, vestidos que foram felizes mas que não fazem mais sentido, outros que foram tristes e, por mais lindos que sejam, também não fazem sentido ficarem ali, com suas tristezas expostas. fotografias, bilhetes, cartões de visita, de aniversários, de natais, "nunca fomos tão felizes", feliz novo novo, saúde para dar e vender, contas a pagar, contas perdidas, contas injustas, um fio de contas, miçangas de números. estava encarafunchando (será que é assim que se escreve?) algumas gavetas e achei os comprovantes do meu primeiro aluguel. 600 dinheiros. era um apartamentinho na rua capital federal. dois quartos, um escritório e um de dormir. uma cozinhica e uma sala com uma varanda fechada. lembro que fui no ceasa e comprei samambaias, uma porção delas e armei uma rede. ali ficava feliz da vida. brincando com as bonecas da vida adulta. ainda sendo menina, ainda não sendo mulher. nossa quando vi os comprovantes, rapidamente me transportei e lembrei de um dia, um jantar que dei para uns amigos. como éramos todos tão lindos, jovens e alegres. eu era a única da minha turminha que morava sozinha, um avanço. todo mundo ia para minha casa. era um refúgio. muitas vidas se passaram na minha vida. aquele lugar se tornou quase esquecido em mim. até que achei os comprovantes. a vida é engraçada. uma gaveta externa abre mil compartimentos aqui de dentro.

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