11/agosto/93
A folhinha virou.
Estamos no segundo semestre.
O país da
inocência perdida está confabulando sobre os grandes e velhos temas nacionais:
inflação, futebol e fome.
Às vésperas da
provável queda de mais um Ministro da Fazenda, os cheques especiais se tornam a
grande vedete da classe média.
Juros por Deus,
isto tem que acabar.
Sim, porque por
estas bandas, o mês dura mais que o salário.
Por estas bandas,
tiros desumanos de uma polícia idem matam crianças que nunca ouviram falar em
salário, em pais e, muito menos em país.
Por estas bandas,
a ditadura militar deu lugar à ditadura econômica, aquela que censura
sobrevivência às pessoas.
Por estas bandas,
a banda de Chico Buarque já passou e não cantou versos de amor.
Por estas bandas,
minha gente, ainda é agosto.
Talvez quando
entrar setembro, entrem as boas novas. Talvez.
Por enquanto, o
Brasil de todos os santos está esperando por um milagre.
Temos 30 milhões
de crianças morrendo de fome. Temos o segundo maior índice de criminalidade do
mundo. E um novo Ministro da Fazenda a cada 90 dias.
As pessoas voltam
a lotar os estádios de futebol esperando por um renascimento da paixão
nacional. O Palmeiras é campeão paulista depois de 17 anos de jejum.
O axé music tomou
conta do Oiapoque ao Chuí.
Mas apesar de
tudo, a alma do brasileiro sobrevive intacta.
É como se
estivéssemos escrevendo a história de uma alegria gratuita.
O sorriso no final
de tudo e, apesar de tudo.
O brasileiro
perdoa: é um bom cristão.
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