conselhos de psicólogo

ele me deu duas palavras. elas eram meus conselhos de fim de sessão para uma situação específica.viraram conselhos de vida. são elas: força e elegância.
onde está seu coração, ali está o seu tesouro.

reflexões

"o domingo é um cachorro escondido debaixo da cama."

mario quintana

série: entrevistas do feminino

taís é personal trainer. trabalha numa academia cuja mensalidade custa 850 reais. ela ganha pouco como professora, mas aproveita todos os benefícios do espaço - ofurô, spa, chuveirão, sauna. acabou de se casar e mora num pequeno apartamento na rua da consolação. uma sala, um quarto, um banheiro, uma cozinha e uma área de serviço. tudo muito pequeno mesmo. o armário de duas portas é para guardar as roupas dela e do marido. uma prateleira rente ao teto guarda os poucos livros e os vasos que ganhou de presente de casamento. na frente do sofá uma estante baixa com uma big TV de plasma (isso sim, a única coisa grande da casa). ao lado da TV alguns DVDs de musicais - tipo desses da Broadway - e uns filmes como Titanic. taís já morou um ano em Barcelona, como imigrante ilegal e, por isso, não podia sair da Espanha para visitar outros países. mas fez o Caminho de Compostela e conheceu Madrid. na lua-de-mel foi para Itália - Veneza, Milão, Roma e Florença. "foram poucos dias em cada cidade".
taís é vaidosa com o cabelo, longos e loiros. passa creme, hidrata, penteia várias vezes ao dia. na infância foi moleca, gostava de brincar de bola na rua com os irmãos. só se descobriu menina mais tarde e, mulher,  mais tarde ainda. hoje, gosta de se maquiar. não liga para roupa. mas gasta seu dinheirinho em produtos para os cabelos. é aí que vive seu feminino. nos fios de suas longas madeixas.


taís é uma das entrevistadas em um projeto que estou fazendo para a Natura. é uma busca do feminino. como ele se expressa nas mais diversas mulheres.

o primeiro encontro

semana passada fui conhecer meu novo terapeuta. o primeiro dia sempre traz aquele friozinho na barriga. será que vai rolar uma comunicação? será que ele é a pessoa indicada para me ouvir e me conduzir nessa trilha arqueológica de mim mesma?  será que ele pode me dar a pá com a qual vou remover as terras que me envolvem e me sufocam? será que vou ter coragem de falar para ele aquilo que nem digo para mim mesma?

quando olhei para ele, gostei. ele disse que também gostou do meu sorriso. pronto. quase duas horas depois, nos acertamos e acertamos a minha nova terapia. toda sexta, às 17h. toda sexta, eu. 


colorida/dolorida

a vida anda de uma palavra a outra: colorida, dolorida. assim, sem vergonha de mudar, ela vai mudando, sem medo de sentir, ela vai sentindo. ela, a vida. ela, eu.

estou assim. em cores, em dores.

investigação de mim mesma

essa história de ir fundo, dói. é uma busca arqueológica de mim mesma. estou à procura de objetos, indícios que me façam reconhecer a minha própria história. minhas dores, minhas travas, meus medos.
cavar fundo, tirar a terra da superfície e ir entrando, entrando. quem sabe uma caneca, um beijo, uma palavra não saiam de lá (daqui)? e tenham alguma mensagem que não seja tão criptografada ou em hieróglifos. para que eu possa compreender.

a saída

nunca saímos de um deserto impunes. sempre trazemos em nossa alma resquícios do que vimos e vivemos.  estou aqui, flutuando em minha disposição. ora otimista, ora melancólica. "viver é lidar com o impoderável a todo instante", me disse meu amigo. a qualquer hora tudo pode mudar. e assim como isso é lindo, também é assustador. estabilidade me parece ilusória. todo instante é uma conquista, uma reconquista. o novo.

desertos

tem dias que você atravessa anos. vivi anos em poucas horas, de tão intensas que foram. esses últimos quatro dias foram assim. atravessei desertos, sentada na areia, enquanto o vento me chicoteava, cegava meus olhos, chorei até me esvair, vivi um rodamoinho de pensamentos. eles giravam, eu girava. fui para trás, fui para frente, lá num futuro assustador, parei, respirei, disse para mim mesma: 'medita que vai passar'. e passou. de repente, o vento parou. as areias foram embora e só deixaram a vida. a ampulheta virou e recomeçou. uma nova história renasce. dizem que é mesmo assim. relações se reinventam, pessoas se enfrentam, tudo se desconhece, para depois reconhecer.

dolorosos esses desertos.
mas belos.
(depois que passam)

diálogo

quando estudei francês, teria me divertido muito mais se meu livro escolar fosse como esse que vi. e que contém diálogo entre o pai-cachorro e o filho-cachorro. Pai-cachorro: "Você tem estudado muito?" Filho-cachorro: "Tenho". Pai-cachorro: "Matemática?" Filho-cachorro: "Não". Pai-cachorro: "Ciências?" Filho-cachorro: "Não." Pai-cachorro: "Geografia, filosofia, história?" Filho-cachorro: "Não". Pai-cachorro: "Afinal o que você tem estudado?"Filho-cachorro: "Línguas Estrangeiras." Pai-cachorro: "E o que você aprendeu em línguas estrangeiras?" Filho-cachorro: "Miau."

clarice lispector, em A Descoberta do Mundo
minha poesia me conta

no meu ventre
te espero

no teu templo
me celebro

rio de janeiro

fiquei a semana passada no rio de terça a sábado. foi uma delícia. ficamos em copacabana, num hotel de frente para o mar. acordar e dormir olhando para o mar é uma experiência e tanto. minha melancolia se ausenta de mim no rio. fico mais leve, mais feliz, achando que a vida pode ser realmente bela e linda.

a beleza da cidade entra em mim e me faz sonhar, sorrir, sondar possibilidades de-quem-sabe-um-dia comprar um pequeno apartamentinho por lá e passar umas temporadas, escrevendo, caminhando no calçadão, vendo as velhinhas de copacabana, os moços e moças do leblon, as crianças e cachorros em toda parte. foi a primeira vez que fiquei em copacabana, e lembrei do que alguém um dia me disse:
- se todo mundo resolver descer dos prédios de copacabana ao mesmo tempo, tudo para. ninguém mais anda. porque é gente pra xuxu!

a cidade estava em dias do rock'n rio. eu não fui aos shows, mas pude perceber o burburinho ao meu redor. o trânsito, jovens com camisetas do festival andando apressadamente, o agito em frente ao copacabana palace, que devia estar hospedando algumas celebridades de alto quilate - talvez steve wonder, talvez lenny kravitz, shakira? não sei, só sei que as meninas faziam plantão de shortinhos e gritinhos em frente ao hotel.

enquanto isso, a vida corria normal. pessoas caminhando na orla a todas as horas do dia. eu inclusive fiz isso todos os dias e a qualidade de vida ganha consideráveis pontinhos positivos. a brisa do mar ventava e levava embora os pensamentos. acho que é mais fácil meditar no rio. penso que talvez seja por isso que haja tantos espaços de yoga pela cidade.

eu acordava cedo, andava na praia, voltava tomava banho e trabalhava. depois encontrava o Sérgio e íamos almoçar. sempre em algum restaurantinho ali por perto do hotel. aí andávamos pelas ruas, observando lojas, prédios e pessoas. descobrimos ruazinhas super simpáticas, um bar com nome de OrgasmoBar, escrito tudo junto, velhinhas de carrinhos de golfe, andando para lá e para cá. orquídeas presas nos troncos das árvores e a brisa, sempre a brisa. não estava tão quente - 21 graus. à tarde, eu trabalhava mais um pouquinho e final do dia, mais uma caminhada na areia. do arpoardor ao leme. do arpoador ao leblon. à noite, fomos na exposição do Sérgio em um dos dias e em outros fomos jantar fora. andando pela avenida atlântica, cruzando prostitutas e cafetões e mães de famílias, e rapazes correndo depois do trabalho e gringos, muito gringos. nunca vi tantos estrangeiros assim em São Paulo.

na sexta-feira, tirei o dia de folga. não liguei o computador, não chequei emails, não fui no facebook, nada, fiquei passeando pela cidade. fomos ao centro, visitamos o Centro Cultural Banco do Brasil, fomos à Confeitaria Colombo, almoçamos em um bar português e depois andamos na praia, areia, sol, vento e bolinho de bacalhau. à noite fomos no Amir, um restaurante Árabe em frente à Praça Lido. conhecemos Oswaldo, um carioca de seus sessenta anos que jantava sozinho, tomando uma cerveja e ouvindo Cartola no seu Ipod. num instante ficamos sabendo de toda sua vida. estava esperando seu motorista que iria levá-lo à Petrópolis, onde estava sua família. mas o motorista estava preso no trânsito e não chegava, então ele estava ali a curtir a vida e a música. a celebrar, pois afinal o que existe melhor do que celebrar?

brindamos.