alta literatura


no meu aniversário ganhei Mrs Dalloway de um amigo querido. foi um presente descobrir a grandeza de Virginia Woolf. tinha lidos uns contos dela, mas tudo meio disperso, sem entrar completamente. agora percebi. encontrei uma ligação entre ela e a minha autora preferida: Clarice Lispector.
as duas vasculham as entranhezas nossas. as duas contam as histórias que se passam dentro,
não necessariamente fora de nós.

quando Mrs Dalloway foi lançado, nos anos 1920, a crítica desceu a lenha, dizendo que não era um romance propriamente, pois não haviam acontecimentos. não havia história.
depois perceberam e hoje consideram como um dos livros fundadores do modernismo.


cada vez mais eu tenho para mim que a grande história é mesmo íntima. 

lendo....


meu caderninho


apuaú

entrada da comunidade do apuaú - um assentamento do INCRA.
quando é época de cheia essa escada-tronco fica totalmente submersa.

o encontro_solimões e negro


o maior luxo da terra

fiquei uma semana num barco. acordando, almoçando, jantando e conversando rio.
olhando rio. ouvindo rio. cantando rio.
vendo seus mil tons de verde e rosa e azul e vermelho.
Amazônia.
lá senti o privilégio de ser brasileira. saber que divido a mesma bandeira
com aquela água, aquela árvore, aquele pacu, aqueles patos, aqueles frutos.

essa natureza é o maior luxo que eu conheci em vida.
é a vitrine mais bela que já passou pelos meus olhos.

o rio negro e sua realeza. 


minha nina

ela é pretinha, silenciosa. sempre fica ao meu lado, respirando docemente. não é de muitos amigos, aliás é de bem poucos. não faz festa à toa. não baba ovo pra ninguém. tem uma personalidade e tanto.
nos últimos tempos, venho notando que os bigodinhos brancos vem aumentando e seu olhar está mais profundo: deve ser coisa da idade. ela me acompanha há 11 anos. já passamos por muitos momentos juntas. momentos de profunda e intensa alegria, outros de dor vertiginosa. e ela sempre ao meu lado. sempre silenciosa. sempre amorosa.

minha chow-chow.

águas de São Pedro

quando eu era jovem, tipo 16 a 18 anos, ia com os pais de uma amiga para Águas de São Pedro. ficávamos no hotel jerubiaçaba que fica bem no centrinho. não lembro exatamente o que fazíamos, mas lembro sim do sorvete, do Grande Hotel, onde na época havia bingos - até ganhei uma vez com o final F60 - e lembro também das festas onde encontravamos uma turminha de São Paulo.

nunca mais havia ido para lá até ontem. fui para um casamento de um primo e passei pela cidade.
parece que parou no tempo. tudo está lá: o hotel, o sorvete, o grande hotel, que hoje tem um curso concorridíssimo de gastronomia.

a cidade parece a mesma. só que hoje tem muito mais carros, muito mais lojinhas de sorvete
e muito mais gente. só não tem aquelas pessoas. nem a minha amiga, nem os pais dela, nem a turminha que eu só encontrava lá.

o tempo passa, as cidades ficam, as pessoas vão.

expressões

As meninas que trabalham comigo vieram hoje com uma expressão que morri de rir:
uma falando para a outra,

- E aí, hoje vai ficar com a cara da riqueza ou não?

Cara da riqueza é quando se arrumam, quando prancham os cabelos, colocam as suas blusinhas, maquiam seus rostos.

Já a cara da pobreza..... bem, essa nem precisa de explicação!


alberto caeiro


“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena                                           
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”


gente

passou um mês. e tantas reuniões!
tantas pessoas falando. blablabla.
uma delas me chamou a atenção,
ela falava o tempo todo -
era uma chefe na hierarquia daquela sala -
explicava, explicava.
as pessoas ouviam.
e concordavam.
afinal ela falava obviedades.
nada para discordar.

eu estava ali pela primeira vez
junto com ela.
ouvia o seu blablabla,
sem o menor interesse,
mas uma coisa me chamou a atenção:
ela falava, falava, falava
e além de não dizer nada
também não olhava para ninguém!

ela falava para um interlocutor
inexistente.
alguém que paira uns dez centímetros
acima das cabeças das pessoas.
eu achei aquilo incrível.
como é possível alguém falar sem
olhar para quem está falando?

pois bem, mas teve um cara
que ela olhou. ele chegou no final da reunião.
e era.....
o chefe dela

(bingo!)

tanto tempo

os dias passam voando. quero postar, mas não encontro tempo.
julho para mim é sempre um mês esquisito, sempre fico numa espécie de limbo,
esperando pelo renascimento do agosto. e nesse limbo não tenho coragem
de muita coisa. fico meio que na preguiça de mim mesma. uma preguiça da existência.
nem ler direito eu leio, nem ir ao cinema, nem trabalhar muito. tudo é meia boca.

mas agora chegou agosto e tudo parece que está mudando. agosto,
vem a gosto de 2012. um ano movimentado lá fora.
não tão movimentado aqui dentro, de mim.
"Cada um vem do país da sua infância...Verdade lúcida, doce, cruel, de acordo com a infância, toda matéria
o corpo é feita, o corpo e os sonhos, o que se vê em nós
e o que se esconde, bálsamo e veneno. 

A infância está em todas as idades da vida, e ainda na lingua, nos gestos, nos desejos, nos medos, nas realizações e obsessões. 

Não existe amnésia da infância, todas as coisas se lembram, sempre, mesmo que estejam quietas por longo tempo
e não mostrem jamais sua verdadeira face. Todas as coisas se lembram. O mais velho ser, o mais frágil, o mais forte em nós, é a infância" 
 
 Valentine Goby - Petit éloge des grandes villes.

lendo, lendo, lendo

a vendedora de fósforos, de Adriana Lunardi.

inspirações para um domingo de frio

Preciso dizer que, quando acordei
hoje de manhã, eu sabia quem
eu era, mas acho que já mudei
muitas vezes desde então”
 
(Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas)

mad men

estou viciada nessa série americana. mad men é um trocadilho, com mad de louco e mad, de madison avenue, a famosa avenida de Manhattan onde surgiram as grande agências de propaganda, nos anos 50. o enredo se passa todo dentro de uma agência, no início dos anos 1960 e vai atravessando a década. além de toda a trama que se desenvolve entre os personagens dessa agência, o seriado também aborda os acontecimentos culturais mais importantes daqueles anos. o assassinato do kennedy, a entrada dos negros no mercado de trabalho, o auge da liberação feminina, a disseminação do uso das drogas, como o LSD. é maravilhosa. recomendo plenamente.

atualmente estão na 5ª temporada.

a visita cruel do tempo

eu terminei de ler um livro que mexeu muito comigo: A visita cruel do tempo, escrito por uma californiana chamada Jennifer Egan. conta a história de várias pessoas que por vários motivos se entrelaçam entre si. cada capítulo é narrado sob o ponto de vista de um personagem, e a liguagem que ela usa, muda também, acompanhando o estilo de cada um. é muuuuito bom. ganhou o Pullitzer no ano passado. demora um pouco para engatar, mas depois de página 30 você não quer mais largar.

eu me vi lá. em vários personagens. em várias cenas que eles protagonizam. vi pessoas da minha vida.
super recomendo.

emoções eu vivi

dias intensos, de tantas emoções.
a cerimônia de premiação do sergio ontem no Sesc Vila Mariana foi um dos momentos mais felizes e mais justos que já vivi.
felizes, porque não tem maior felicidade do que compartilhar da alegria e realização de quem se mais ama nessa vida. e justos, porque o sergio merece cada palma, cada olhar de admiração para seu trabalho.
ele é uma das pessoas mais entregues a seu trabalho, que conheço.
ele ama sua pintura. vive por ela.
pintar para ele é viver.
e é uma delícia compartilhar disso.
estou muito emocionada.
e muito orgulhosa.

triste

estou triste. pensativa, melancólica,
nostálgica.
meu amigo se foi e com ele uma porção de momentos vieram à tona.
porção de encontros.
porção de risadas.
ele tinha um gosto grande de viver.
tão grande que era um pouco estabanado.
às vezes agressivo, outras distante.
mas, quem não tem lá suas manias?

a vida nos colocou mais longe.
mas sua morte nos aproximou.
e ele está aqui.
grudadinho no meu coração.

seu nome era marco freitas.
e tinha 42 anos.

para o meu amigo,

Marca !!!!!

Eu estou aí com você.  Você está aqui comigo, nas minhas preces e no meu coração.
De repente lembro de todos os momentos que passamos juntos, nossas viagens, nossas
partidas de xadrez, aquele molho de laranja reduzida que você aprendeu não sei onde
e que me ensinou e que eu fazia para comer com franguinho. Lembro das noites que dormi
na sua casa, no Butantã. Lembro de um risoto com morango que seu amigo Eithan fez e que estava uma delícia.
Teve também Paúba, Camburi, o querido Ziggy. Jogatinas, e gestos mil de carinho:
você me ensinando a respirar com a parte debaixo da barriga, para sair todo o ar, e aliviar a ansiedade.
Tudo passa assim na frente da minha memória, como um filme muito bom de assistir.

A vida é feita mesmo de muitas vidas. Faz tempo que não nos vemos, mas saiba que estou pertinho.

Te abraço e te beijo com muito carinho.

Simona

mensagens

morreu um amigão meu das antigas. ele deixou um filho de 15 anos.
hoje vi no Facebook uma mensagem de um amiguinho dele.
um jeito diferente de escrever, mas que tinha tanta emoção!

"fala bro so fiquei sabendo agora, muita forca cara pode conta cmg um abs"

londres

neurocientistas afirmam que o tempo da viagem vale mais que o tempo do cotidiano, porque é o tempo das novidades e o cérebro apaga as repetições, já o novo ele absorve rapidamente. como tudo foi absolutamente inédito nessa viagem, a impressão que tenho é que vivi muito. muito tempo em 14 dias.

londres é imensa, interessante, feia, tradicional, moderna, esquisita, fria, cinzenta, terra de garoas e de gentes. uma terra cheia de véus, que para apreciar é preciso desvendar. ao contrário de paris - que é mais evidente em seus encantos ou até mesmo de nova york, mais próxima de nós, latinos.

ficamos em Earls Court, pertinho de South Kensington, uma região bem residencial, cheia de casas e pequenas mansions chiques e praças com árvores centenárias. bem cedinho, mulheres passeavam com seus cachorros e suas capas de chuva chiques (dizem que os londrinos de verdade não usam guarda-chuva, mas sim capas de chuvas com capuz). o hotel era bem charmoso, chama Base2Stay, com um staff atencioso (só estrangeiros, indianos em sua grande maioria). o quarto era pequeno, porém confortável e com uma pequena cozinha, o que foi fundamental para nosso café da manhã e sopinha no final do dia. (uma economia significante).

tudo lá é caro. muito caro. além do pound ser muito valorizado em relação ao real (3x1), as coisas ainda são numericamente caras para eles também. para nós, acostumados a viajar para Nova York, Londres fica proibitiva em muitos aspectos. compras em farmácias, (meus creminhos terão que esperar pela Big Apple), refeições em restaurantes, ticket do metrô, uma única passagem custa 4,20 pounds (~ 12 reais). mas, por outro lado, existem muitas diversões de graça. museus, por exemplo, a maior parte deles não cobra pelo acesso às coleções particulares. o que são pagas são as exposições especiais. (por uma exposição do picasso, pagamos 14 pouns each!) também existem várias feiras ao ar livre, como a de Camdem Town e Portobelo Road. são ícones londrinos, cheios de barraquinhas de antiguidades, tranquerias e curiosidades. engraçado. passamos bons momentos em Camdem Town, a mais vazia das duas, pelo menos no dia em que fomos.

turistas estão lá aos borbotões. europeus do leste e do oeste. espanhóis, italianos, franceses e línguas eslavas. a oxford street, paraíso dos consumidores de fast fashion, ficava lotada a todas as horas do dia. gente entrando e saindo das lojas, carregando suas sacolas baratas, cheias de itens made in china. muitos brasileiros ali. loucos pelo consumo.







jet lag

estou ainda desfusada. meus horários estão malucos, estava morrendo de sono às 8 da noite e acordei às 4 da manhã, absolutamente desperta. dizem que para passar os efeitos do fuso, é um dia por hora. como estava em londres,  4 horas de diferença = 4 dias. enquanto isso, vou zonzando por aí.

vi no facebook - um texto para pensar

 Os domingos precisam de feriados

 "Toda sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica.
Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção,
inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.

 Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

 Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

 Hoje, o tempo de “pausa” é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações “para não nos ocuparmos”. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.

 Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas.  Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo…

 Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim. Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida
e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias,  o Domingo de um feriado…
 Nossos namorados querem “ficar”, trocando o “ser” pelo “estar”. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI. Um dia seremos nossos?


Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
 Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…
 Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
 

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é “o que vamos fazer hoje?” já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande “radical livre” que envelhece nossa alegria e o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar”.

 Nilton Bonder, rabino, coordenador da Congregação Judaica no Brasil
A lua anda devagar,
mas atravessa o mundo.


mia couto

tempo

queria um tempo longo e profundo.
um tempo de um gosto lento.
como se eu degustasse cada minuto.

queria um slow time.
nesse meu ritmo que é tão acelerado.
queria desacelerar.

meditar,
praticar yoga
beber chá
comer direito
ler
conversar olho no olho
mão na mão
alma na alma

queria perceber nuances.
encontrar as entrelinhas
mais facilmente
queria me embalar na rede
da lentidão

um pouquinho que fosse
eu sou tão acelerada
minha cidade é tão acelerada
cadê o tempo?

joanópolis

nos anos 90 eu tive um pedaço de um terreno em joanópolis, com mais duas amigas. era numa piramba incrível. carros não subiam quando chovia (nem quando estava seco, na verdade). às vezes tinha que botar corrente nos fuscas, ou seja, um perrengue. mas a vista era linda e minha vontade de mato era imensa. depois de alguns anos vendi a minha parte para uma das meninas e nunca mais voltei à Joanópolis. até que fui nessa sexta-feira, a trabalho com a Natura.

a cidade está idêntica. o mesmo hotel no centro, a igrejinha, o cartório, a padaria. tudo igual, como se a cidade estivesse sido congelada em uma imagem de 20 anos atrás.

já o hotel Ponto de Luz evoluiu bastante. agora é um spa holístico, com uma comida super gostosa, uma piscininha e uma cachoeirinha. delícia de lugar. cheguei na sexta pela manhã e tomei um banho de rio. lavei corpo e alma de uma semana intensa de trabalho. foi uma espécie de poesia para o meu corpo.

e à noite, depois do dia todo trabalhando, dormi feito uma criança.
como é bom estar perto da natureza. olhar para o verde, respirar esse ar cheio de pureza.
como sinto falta disso no meu dia a dia.


Gita

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.
Você pensa em mim toda hora.
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.
Eu sou a luz das estrelas;
Eu sou a cor do luar;
Eu sou as coisas da vida;
Eu sou o medo de amar.
Eu sou o medo do fraco;
A força da imaginação;
O blefe do jogador;
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...
Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou o seu sacrifício;
A placa de contra-mão;
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.
Eu sou a vela que acende;
Eu sou a luz que se apaga;
Eu sou a beira do abismo;
Eu sou o tudo e o nada.
Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!
Você me tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.
Das telhas eu sou o telhado;
A pesca do pescador;
A letra "A" tem meu nome;
Dos sonhos eu sou o amor.
Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco;
Sou raso, largo, profundo.
Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.
Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô;
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início
O fim e o meio.

o início, o fim, o meio

fui na pré-estréia do documentário do Walter Carvalho sobre a história do Raul Seixas. foi no cine Marabá, na Ipiranga. chegamos um pouco atrasados e na porta, uma multidão de fãs e covers. passei por vários rauls, alguns cantavam músicas, outros carregavam faixas: raulzito não morreu. tinham motos, um caminhãozinho, parecia um daqueles encontros anuais de covers do Elvis, que acontecem no meio-oeste americano. um acontecimento no centro de São Paulo.

entramos e as salas estavam lotadas. convidados por todos os lados, nas cadeiras, no chão, em pé.

o documentário é uma preciosidade.

uma edição vertiginosa mostra a trajetória do baiano que morreu
aos 45 anos, acabado em álcool, cocaína e éter.
mas enquanto viveu foi uma potência visceral.
uma força da natureza, como foram janis, jimi hendrix, jim morrison.

raul era rock.
raul era puro. 
desde menino, já tinha atitude e topete de star.
tinha cheiro de flor, como disse uma de suas mulheres.
cheirava doce, disse a outra.
só bebia para compor, contou um parceiro.
o outro - paulo coelho - afirmou que o maior parceiro do raul foi o próprio raul.
caetano falou e tocou lindamente.
paulo coelho foi corajoso e generoso em suas palavras.
nelson motta foi delicado, como sempre.

raul - o início, o fim e o meio, traz à tona uma questão que emerge nos tempos atuais: em um mundo marcado por celebridades fakes, por falta de substância e força, relembrarmos pessoas de verdade soa como uma volta à vida com real entrega, com intenção, com criatividade. uma vida com propósito, sem Big Brothers, sem celebridades instantâneas.

raul era de verdade. e que saudades que dá de pessoas de verdade.
elas não morrem.



haicai_

infância

um gosto de amor
comida com sol. a vida
chamava-se 'agora'

guilherme de almeida

domingodelícia

acordei às 9h30. tomei café. desci com a nina. voltei. sergio estava pronto. saímos. hoje é nosso dia de andar a pé pela cidade. o itinerário estava na cabeça: instituto tomie otahke para ver a exposição '10 primeiros anos' com uma mostra dos artistas que foram expostos nos 10 primeiros anos do instituto. de lá, subimos a rua dos pinheiros até a brasil, entramos por umas quebradas e subimos a augusta. nosso destino era o MASP. fomos ver a exposição de Roma. estava lotada. demos uma olhada rápida e saímos em direção ao Instituto moreira salles, na rua piauí. vimos uma bela exposição da mira schendel e finalmente depois fomos almoçar no pobre juan. um delicioso restaurante de carnes ali de higienópolos.
depois do almoço andamos por mais meia hora. o céu começou a ficar escuro, trovões. pegamos um taxi e chegamos em casa às 17h. andamos quase 15 km. foi uma delícia. me curou de uma porção de maus pensamentos. me curou de uma semana só sentada. andar é a mais incrível forma de meditação.

sem gasolina

crônica de uma cidade.

saí de alphaville às 12h15 depois de uma reunião longa e improdutiva. peguei o carro e voltei correndo para SP pois tinha almoço com uma amiga. no meio do caminho percebi que estava com pouquíssima gasolina, mas como não vi um posto na estrada continuei (e como estava perto de São Paulo, com certeza o combustível daria até chegar num posto). estava com o ar-condicionado ligado e o CD do Chico no som. cantava loucamente quando entrei na marginal, aí apareceu a visão do inferno: tudo parado. digo, tudo absolutamente parado. milhões de carros enfileirados. sem saída. sem horizonte. sem solução. estava presa num turbilhão de metal e motores. foi quando olhei para o marcador de gasolina. o nível havia caído absurdamente. estava na parte debaixo da linha que demarca a parte final da reserva. e eu ali. desliguei o ar, baixei o som e fiquei imaginando possibilidades tenebrosas.

e se acabar a gasolina agora? o que eu faço?

não tem posto, não tem rua, não tem calçada, não tem acostamento. abri a janela. vi um monte de vendedores. fiquei com um pouco de medo. subi o vidro, deixando só uma frestinha. comecei a suar. suar e imaginar o fim total da gasolina. eu andando de salto alto e vestidinho no meio da marginal.

cadê o posto?

a fileira de carros andou um pouquinho. uns dois metros, calculei. só primeira. jamais segunda ali. suei mais, sofri mais. resolvi respirar um pranaiana. yoga sempre ajuda. andamos mais um pouquinho. nada significante. depois de meia hora parada, andamos vagarosamente. vi um posto!!!
do outro lado. fiz uma reviravolta increivel, consegui abrir espaço entre os carros e chegar. nossa que alívio! embiquei ao lado da bomba, absurdamente relaxada.  abri a janela e pedi para ele colocar apenas 20 reais de gasolina.

desculpe, moça, mas estamos sem gasolina.
e álcool?
nada, não temos nada.
moço, peloamordedeus, eu preciso nem que seja de dois litros.
não temos, moça.
onde tem outro posto?
ali na frente mas também está sem gasolina. agora só depois da Ponte da Eusébio Matoso.
mas, moço, nós não chegamos na ponte do jaguaré ainda! pois é!,
a culpa é do Kassab!

saí de lá resignada e fui até o outro posto. na praça panamericana. nada de gasolina. mas pelo menos eu havia saído da marginal. o meu drama máximo, minha pior imagem mental, de andar por entre os carros de salto alto e vestidinho tinha acabado. naquela altura, mesmo que a gasolina acabasse, eu estava no meu território.

consegui chegar num posto onde tinha álcool. abasteci e cheguei no meu escritório 40 minutos
depois do marcado. fui almoçar ainda esbaforida.
à noite eu estava exausta. cheguei em casa ainda mal com essa experiência.
um dia normal numa cidade que é absolutamente insana.

papo de criança

o filho de uns amigos meus foi ao oftalmologista com os pais.
ele tem 3 anos e meio e o médico tem duas filhas que estudam na mesma escolinha dele.

ao final da consulta o médico vira para ele e fala:

- "você está um rapaz muito bonito, hein Mateus!"

ele ficou todo contente, 'se achando'.

médico continuou:

- "eu estou de olho em você com as minhas filhas, viu!, olha lá! eu estou de olho"

no que o Mateus vira e dispara:

- "e eu estou de olho em você com a minha mãe.!"

desconcertou todo mundo, o médico, minha amiga e o marido.
[nota: minha amiga disse que o médico nunca esticou os olhos para ela]

um livro lento, um livro rápido

quando amadureci um pouquinho, entendi que deveria misturar assim: um livro de leitura lenta - dessas que precisamos nos atentar às palavras como contas de um colar poético, filosófico, que nos enriquece e nos transforma - com um livro de leitura rápida, gostosa, quase como um filme desses que não dura muito na memória.

pois bem, achei que assim eu conseguiria amansar minha fome de
ler, ler, ler com a impossibilidade que tenho de ler sempre coisas profundas.

o livro rápido me descansa do livro lento.
e o livro lento não descansa de mim.

são paulo

terminou o carnaval, começou são paulo.
a cidade se enche de seus carros, suas gentes, suas filas, suas buzinas.
terminou o carnaval e tudo volta ao anormal.
uma cidade com gigantismo.
com superlativos, aumentativos.
tudo muito. sempre.
cansa.
são paulo não cabe mais em si.

[mas ainda cabe em mim]

reflexões

enfim, sós!
são dois só juntos.
duas solidões que se encontram.

teoria da viagem, por michel onfray

"nós mesmos, eis a grande questão da viagem. nós mesmos e nada mais. ou pouco mais. certamente há muitos pretextos, ocasiões e justificativas, mas em realidade só pegamos a estrada movidos pelo desejo de partir em nossa própria busca com o propósito, muito hipotético, de nos reencontrarmos ou, quem sabe, de nos encontrarmos. a volta ao planeta nem sempre é suficiente para obter esse encontro. tampouco uma existência inteira, às vezes. quantos desvios, e por quantos lugares, antes de nós sabermos em presença do que levanta um pouco o véu do ser."

o melhor da festa é esperar por ela

lembro que quando era pequena adorava ver minha mãe se preparando para viajar. eram os dias que ela ficava mais leve e mais feliz. eu adorava porque percebia em seu jeito um acolhimento que normalmente não havia. percebia um estar-de-bem-com-a-vida que contagiava a todos em casa. eu torcia para que suas viagens fossem frequentes, para poder desfrutar dessa amorosidade do ar. uma atmosfera de antecipação, sem ansiedade, mas com entrega. sem correria, porque ela sabia que a viagem estava lá no alcance da vida dela.

hoje tal mãe, tal filha, sinto o mesmo que ela. sou igual. é só saber que minha viagem está chegando que já vou me aerando, me encho de um ar fresco e perfumado. compro guias, fico horas navegando na internet em busca de dicas de passeios. vejo mapas e separo um caderno que será meu companheiro.

e aí, nesse mexe-e-remexe de livros, cadernos, guias, encontro um que me chama a atenção especialmente: Teoria da Viagem: poética da geografia, de Michel Onfray, um pensador francês contemporâneo que escreve lindamente, poeticamente e facilmente sobre filosofias e outros pensamentos profundos. Ele mergulha em seu assunto com tanta maestria que é um enlevo compartilhar das suas palavras.

aí me deparo com o indice, que poesia:

Intrada
{querer a viagem}

Antes
{escolher uma destinação}
{aumentar o desejo}

Entremeio I
{habitar o entremeio}

Durante
{realizar a amizade}
{organizar a memória}
{inventar uma inocência}
{deparar com a subjetividade}

Entremeio II
{reencontrar um lugar}

Depois
{cristalizar uma versão}
{dizer o mundo}

Coda
{considerar uma continuação}




mangueira na avenida

ontem fiquei assistindo aos desfiles das escolas do Rio. uma maravilha, gostei de vários mas me emocionei de fato com a Mangueira que improvisou lindamente ao parar a bateria e deixar só o público cantando seu samba-enredo durante dois minutos inteiros. foi tão lindo ver a alegria e energia desse povo lindo que é o brasileiro (e ali não importava se torciam para Portela, Salgueiro ou Mocidade, o que importava ali era o poder e a magia do samba proposto pela Mangueira). eu acho que o Carnaval deveria servir de inspiração e exemplo para outras atividades do país (a política, por exemplo). a organização dos desfiles, a entrega e seriedade de seus participantes, o empenho e dedicação na produção, na confecção das fantasias e dos carros alegóricos. esse é um país que dá orgulho de exportar. o país da avenida, da arquibancada e dos camarotes unidos. em um só som. em múltiplas belezas.

fatos incríveis

o cozinheiro inglês Jamie Oliver estava reformando uma propriedade que comprou em Manchester para fazer seu novo restaurante. No porão do lugar (onde já funcionou um antigo banco) os operários encontraram um baú antigo. Dentro? Duas fitas do Joy Division e New Order (o que por si só já valeriam uma fortuna), armas antigas, jóias e ouro. O valor total do tesouro: R$ 2,7 milhões. ele entregou tudo ao tesouro público.

carnaval em SP

ruas vazias, supermercado vazio. silêncio nas casas. calor, muito calor. parque do ibirapuera lotado.
livro nas mãos, almoço em família, siesta depois. carinho na nina. calor, muito calor. e um alívio enorme de não ter pego nenhuma estrada. não pegar engarrafamento de guarda-sóis. estou aqui na quietude de mim mesma. e isso me agrada cada dia mais.

texto antigo, escrito em 1995


amor nosso de cada dia

no entanto, temos medo que nosso amor faça amor.
este amor que se conhece cotidianamente.
que se manifesta no supermercado
nas contas, no aluguel, no vídeo que quebrou.
este amor que vira e mexe, vira.
e se transforma no vinho e no suco de laranja.
no pão, na água.
nosso amor faz jejum
se esconde no pote de manteiga
na barra de chocolate: metade para você,
a outra para mim.
milímetros divididos entre amar ou deixar para lá.
dia a dia, noite após noite.
nosso amor desmascarou os véus da sedução.
um conhecer profundo e íntimo que
perdeu a vontade de fazer amor.

na paisagem do meu trabalho

uma xicrinha, canetas coloridas, um adesivo de uma árvore, um cartão, dois cartões, mensagens de "boa sorte' e tudo mais, uma borracha, um grampeador, um maquininha de apontar de lápis daquelas que giram uma manivela e o lápis fica com a ponta bem afiada. um chaveiro de coruja, o mapa astral do dia 07 de agosto de 2010, um dia muito especial astrologicamente, um porta-durex cor-de-rosa, uns quatro cadernos. um dicionário Houaiss nova ortografia, um óculos escuros, o celular, contas (várias delas) uma luminária, um ventiladorzinho (porque está muito quente) um porta-incensos, dois porta-velas, um creme para mãos da linha VôVó da Natura, algumas citações grudadas na parede {"O que foi, torna a ser", Goethe} {"A vida é muito curta para ser pequena"} um cartão de visitas de uma amiga de lá atrás, o cartão do futuro restaurante de uma amiga que é de toda a vida, um computador MacBook Pro.

e uma página em branco que é recorrente. uma página em branco que me pede para escrever.

drummond

Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil.

frases

"o primeiro e primário efeito do amor é a união"
padre vieira

o mundo da pirataria

eu sempre fui contra essa história de pirataria, mas bastam os EUA lançar essas leis estúpidas da SOPA e da PIPA que passo automaticamente para o outro lado. o fato é que minha opinião vem mudando ao longo do tempo. sei que os artistas, os criadores (eu me incluo nesse segundo time) precisam 'viver' de suas obras. porém imagino que precisamos descobrir novas formas de remuneração. um músico precisa ganhar dinheiro de outra forma que não seja uma ínfima porcentagem da venda de um CD (que aliás custa os olhos da cara). penso que ele pode fazer shows, e penso que pode pedir para que os internautas paguem o quanto quiserem para baixarem suas músicas. sei que alguns músicos já estão fazendo isso e o resultado para eles está sendo muito bom. digo, as pessoas que 'baixam' suas músicas, acabam pagando por elas. o fato é que leis estúpidas não mudam o mundo. o mundo que vivemos está mudando por si só, precisamos é nos reinventar sempre.

acho que essa é a lição.
por falar nisso, assim que o FBI prendeu o dono de um dos maiores sites do mundo de download de filmes, outros sites já se organizaram e estão disponibilizando o conteúdo (filmes). enfim, o mundo é muito mais orgânico (flexível, auto-regulador) do que sempre foi.
e isso me dá um alento incrível.

dias especiais

tantas coisas acontecendo. algumas pessoas indo embora para outra dimensão, filho de conhecidos, irmão de um amigo, filha de um conhecido... enfim. tem semanas que parece que há uma movimentação maior no céu. peço aos meus Deuses e à rainha do mar que acolha essas pessoas.

para onde será que elas vão?

palavras de lua

você me deu um sertão
eu te dei um céu de cinza.
de gente que vive lá em cima
você me deu o agreste
a praia doce e morna
que enfeita o nordeste
suas infâncias de bicicleta,
manhazinhas e passarinhos.
eu te dei o rio das minhas
memórias
histórias.


sobre a morte

hoje morreu o filho de um casal de conhecidos. muito triste, 28 anos, auge da carreira, recém-casado e com um filhinho de 10 meses. estava em londres e provavelmente morreu de um ataque fulminante. e, por causa dele, chegou até mim um texto magistral de Santo Agostinho.

publico aqui:

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.

Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.

A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria for a de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas, 
não chores mais.

o tempo

tantas mudanças em tão pouco tempo.

quando comecei a trabalhar, em 1986, ainda usava máquina de escrever, olivetti lettera 82. trabalhava numa produtora de vídeo, e fazia produção e roteiros. era tudo na máquina, no telefone e nas conversas com as pessoas que ficavam ao meu lado. não tinha essa facilidade de pesquisa que é a internet. quando precisava me aprofundar em algum assunto, tinha que ir na Livraria Cultura do Conjunto Nacional ou na Biblioteca Mario de Andrade. ali, pesquisava livros e mais livros. muitas vezes era viagem perdida, não encontrava o que estava procurando, mas como eu gostava daqueles programas. aprendia tantas outras coisas.

e engraçado como dava tempo. eu trabalhava as 8 horas por dia. eu pegava ônibus para ir pro trabalho, que ficava no Itaim. pegava ônibus para voltar para casa, que ficava em Perdizes. às terças e quintas, fazia jazz depois do expediente e chegava em casa e jantava, conversava no telefone, lia, desenhava.... tudo rolava. isso sem falar nos dias que eu ia direto pro cinema, no Belas Artes da Consolação. depois pegava o ônibus na Paulista para ir para casa.

quando eu entrei na agência de propaganda - mudando do jornalismo para publicidade - eu trabalhava na criação em uma salinha só minha e do Rodrigo, meu dupla. na agência havia várias salinhas, cada uma com uma dupla de criação. ali criávamos nossos anúncios, campanhas, folhetos e quando tinha
um projeto maior, o diretor de criação juntava as duplas na sala de reunião e ali todos davam suas ideias. cada redator levava sua máquina de escrever e os diretores de arte levavam seus blocos de papéis A3, seus lápis, grafites, canetas coloridas, pastéis e ali começava a se esboçar os desenhos e textos. depois essas ideias iam para o estúdio de ilustração e finalização, uma sala enorme com 18 pessoas. tinham uns dois ilustradores-chefe, seus assistentes, os past-ups, os diagramadores, etc... fiquei nessa agência durante 5 anos... e nesse tempo, vi chegar os computadores, vi o estúdio diminuindo, e quando saí, no estúdio só haviam duas pessoas, o chefe, o Ed, que tinha aprendido a mexer no computador e o ilustrador, que se chamava Waltinho. esse era um craque no desenho. todos os outros foram demitidos.

hoje eu trabalho mais do que 8 horas. raramente vou à Livraria Cultura do Conjunto Nacional durante o expediente. faz anos que não piso na biblioteca Mário de Andrade. não faço mais jazz às terças e quintas, também não consigo ir ao cinema durante a semana e mesmo assim me falta tempo.

onde foi que o tempo foi parar?

amor e saudades

na véspera do dia da morte do lobinho, meu cachorro que morreu em dezembro, deixei que ele ficasse deitado embaixo de uma árvore no jardim do meu prédio. ele ficou lá a tarde toda. pois ontem, um mês depois, fui passear com a nina nesse jardim e de repente ela começa a cheirar o lugar onde o lobinho ficou. ela cheirou, cheirou, olhou para mim e chorou.

a nina chorou ao sentir o cheiro do lobinho.

frases que me inspiram

'toda alegria quer a eternidade'
nietzsche

virose?

domingo fiquei de cama, com uma super virose que atacou meu estômago. hoje ainda me ressinto. 'sem coragem para nada'. levanto e deito, tomo água e durmo um pouquinho. vira e mexe eu tenho dessas coisas. acho que é meu corpo pedindo para mudar. seja alimentação, seja não-sei-que. o fato é que nesses dias eu me sinto com uns 10 anos de idade e pedindo colo para minha mãe.

é que quando eu era pequena eu até que gostava de pegar uma gripinha e ficar de cama. além de não ter que ir na escola, podia contar com um colo mais acalorado da minha mãe. ficar mal do corpo me puxa para dentro das memórias. e lá fico revirando meu passado.

memórias do teto

quando eu era adolescente tinha dois sonhos, viver no rio de janeiro nos anos 50 e viver na Inglaterra em algum tempo bem passado. eu achava que havia pertencido àqueles dois mundos em outras encarnações das memórias.

mundos tão distintos.

um solar, bossa nova, nelson rodrigues, copacabana, as velhinhas e velhinhos, com suas roupas engraçadas e cabelos coloridos, tom jobim e vinicius ali mesmo na esquina de ipanema, o juba e o lula do Armação Ilimitada e todos os surfistas seus amigos, paquetá e a moreninha, a urca, a gávea, o jardim botânico, a corte.

outro londres, stonehenge, agatha christie, cornuália, merlin, todos os cavaleiros da távola redonda enfileirados, o santo graal, as ruazinhas medievais, o frio, a lareira, os cakes (não os cup cakes que naquela época nem existiam), as geléias, as tias  personagens dos livros de mistério, sherlock holmes, todos os verbos de inglês que eu tinha que decorar e estudar.

eu lembro que deitava na cama e me transportava literalmente para esses dois mundos. nenhum outro. só esses dois universos, com todos os seus habitantes e atmosferas. neles,  vivia minhas histórias. criava encontros, personagens, encantos.

disso sinto falta. daquela capacidade infinita de olhar para o teto e sonhar. imaginar, criar.
o teto era um portal.

mar

amar o mar

desejos para 2012

concentração e celebração

a volta

voltar para a rotina ressignificada. voltar para a rotina depois de dias de descanso. dias de nada. dias de tudo. dias de ler, ler, ler, andar, andar, andar. namorar. dias de comer diferente, beber diferente, dormir diferente. como férias é fundamental! mas como voltar fica cada vez melhor. a cada ano que passa, gosto mais de voltar para minha casa, minha cama, meu chão.

mar

o mar é uma poesia.
sempre.
sou feliz para sempre de frente pro mar.

ideia de cidade

todo dia poder andar na praia ao acordar. todo dia colocar o pé na areia. todo dia olhar para o mar, tocar o mar, entrar no mar. desse jeito o dia todo fica bom.

os outros são espelhos

nos enxergamos no outro. reflexos positivos e negativos. do meu caso, as imagens positivas me trazem pessoas generosas, que gostam de ajudar o outro, que se preocupam com o outro, ou como se diz em inglês "put themselves in others shoes". esse é o meu lado libriano, que acredita nas pequenas gentilezas, nas delicadezas dos sorrisos, das flores, dos gestos.

já as imagens negativas me trazem justamente o oposto. pessoas tristes porque não se compartilham,
se fecham em si mesmas. e aí são egoístas, indelicadas, agressivas. esses comportamentos - que naturalmente todos trazem em si, como eu trago em mim - não quero mais. quero evoluir no sentido do compartilhamento. quero prosseguir no meu processo de abertura.

creio no amor, no sorriso e na flor.
sou bossa nova.

2012

feliz ano novo. feliz ano todo. para todos.
segundo a astrologia será um ano muito movimentado. passará assim, como num piscar de olhos ou num estalar de dedos. será regido pela lua, o que nos fala para ficarmos atentos à nossa percepção, intuição e sensibilidade. alguns movimentos importantes dos planetas também sugerem as mudanças que estão nas profecias de várias culturas. dizem que 2012 nos traz o fim do mundo. seja lá o que isso quer dizer. eu acredito que já estamos no fim de um ciclo subjetivo e objetivo, com vários padrões de comportamentos que estão falindo. e, como sou muito otimista, acho que estamos indo para um mundo melhor. com relações mais equilibradas entre as pessoas, entre as pessoas e o planeta, entre as pessoas e o consumo. essa é minha crença, minha esperança.
feliz ano novo. feliz ano todo. para todos