vi no facebook - um texto para pensar

 Os domingos precisam de feriados

 "Toda sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica.
Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção,
inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.

 Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

 Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

 Hoje, o tempo de “pausa” é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações “para não nos ocuparmos”. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.

 Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas.  Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo…

 Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim. Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida
e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias,  o Domingo de um feriado…
 Nossos namorados querem “ficar”, trocando o “ser” pelo “estar”. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI. Um dia seremos nossos?


Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
 Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…
 Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
 

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é “o que vamos fazer hoje?” já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande “radical livre” que envelhece nossa alegria e o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar”.

 Nilton Bonder, rabino, coordenador da Congregação Judaica no Brasil
A lua anda devagar,
mas atravessa o mundo.


mia couto

tempo

queria um tempo longo e profundo.
um tempo de um gosto lento.
como se eu degustasse cada minuto.

queria um slow time.
nesse meu ritmo que é tão acelerado.
queria desacelerar.

meditar,
praticar yoga
beber chá
comer direito
ler
conversar olho no olho
mão na mão
alma na alma

queria perceber nuances.
encontrar as entrelinhas
mais facilmente
queria me embalar na rede
da lentidão

um pouquinho que fosse
eu sou tão acelerada
minha cidade é tão acelerada
cadê o tempo?

joanópolis

nos anos 90 eu tive um pedaço de um terreno em joanópolis, com mais duas amigas. era numa piramba incrível. carros não subiam quando chovia (nem quando estava seco, na verdade). às vezes tinha que botar corrente nos fuscas, ou seja, um perrengue. mas a vista era linda e minha vontade de mato era imensa. depois de alguns anos vendi a minha parte para uma das meninas e nunca mais voltei à Joanópolis. até que fui nessa sexta-feira, a trabalho com a Natura.

a cidade está idêntica. o mesmo hotel no centro, a igrejinha, o cartório, a padaria. tudo igual, como se a cidade estivesse sido congelada em uma imagem de 20 anos atrás.

já o hotel Ponto de Luz evoluiu bastante. agora é um spa holístico, com uma comida super gostosa, uma piscininha e uma cachoeirinha. delícia de lugar. cheguei na sexta pela manhã e tomei um banho de rio. lavei corpo e alma de uma semana intensa de trabalho. foi uma espécie de poesia para o meu corpo.

e à noite, depois do dia todo trabalhando, dormi feito uma criança.
como é bom estar perto da natureza. olhar para o verde, respirar esse ar cheio de pureza.
como sinto falta disso no meu dia a dia.