tempestade em piçinguaba, ubatuba



foto do meu querido Julio Menezes

adorável vira-lata das areias de paúba

paúba, litoral norte de SP



paúba é para passear, descansar, olhar o horizonte e navegar no ar.

canavieiras, sul da bahia, perto da ilhéus de gabriela

trabalhos de 2009



uma das boas coisas de 2009 foram a qualidade dos trabalhos que fiz. as viagens, as andanças, as palavras e as imagens. canavieiras na bahia, foi onde tentei pescar o marlin - o lendário peixe-espada. não pesquei nem uma sardinha, mas a viagem foi uma emoção só. o texto final saiu na revista Eurobike.

fernando pessoa

"na véspera de não partir nunca, pelo menos não tem que se arrumar as malas."

véspera

na véspera de partir temos tanto a fazer. tantas malas, tantas contas a pagar, recados para escrever, trabalhos para adiar. as responsabilidades com a casa. os remédios da mamãe. a nina e o lobinho bem-cuidados, comida comprada - 2 kgs de ração de carne de ovelha. e no meio das malas a minha nina fica me olhando com os olhos tristes: ela já sabe. hoje é a véspera. ficaremos alguns dias longe uma da outra. ela tem saudades antecipada.

90 anos do tio vicente

todos estavam lá, menos os irmãos. todos eram o cunhado, Francesco que atravessou o Atlântico para estar com a gente, sobrinhos e sobrinhas, filhos e filhas, netos, netas. cada um com suas vicissitudes. ali estavam os meus, a minha família representada por tantas almas. algumas atormentadas, outras cansadas, umas poucas realizadas. mas todos estavam felizes pelo encontro, pelos abraços e beijos e lembranças. todos se emocionaram com o vídeo de 50 minutos com fotografias que representavam as nove décadas de vida do meu tio, irmão de minha mãe. nas imagens vi meus pais, minha irmã querida, meu sobrinho pequeno, eu de cabelo comprido, cabelo médio, cabelo vermelho. cada década era embalada por uma música. eu chorei muito. ali de certa forma estava uma parte da minha biografia. dei as mãos para minha prima Maria Alice e para meu sobrinho Bernardo. E ali naquele entrelaçar, escrevemos mais um capítulo de nossa história.

cigarro

e lá estava eu fumando loucamente. tirando o atraso de todos esses anos que estou sem fumar. fumei um, terminou, acendi outro. fiquei ao mesmo tempo chateada e feliz. culpada pelo vício; realizada pelo prazer. de qualquer forma fiquei fazendo as contas: 5 anos sem fumar equivalem a mais de 1500 dias. acho que deu para limpar meus pulmões. e enquanto estava elocubrando e fazendo minhas contas mentais me aliviando do peso da fumaça ingerida, acordei.

o vício permanece no inconsciente.

casamento do filho dos primos

a gente cresce e quando vê já está indo no casamento do filho do primo, que você viu bebezinho, o filho não o primo, cresceu virou um pirulão, conheceu uma moça, conheceu outra e na terceira, quis casar. os pais arrumaram uma festa linda. em cotia. lá fomos nós os filhos dos tios e lá vimos outros filhos dos tios, outros primos e seus filhos.
as pessoas crescem, outras amadurecem e outras diminuem. a minha tia Olga era bem mais alta. ontem estava miudinha. parecia uma criança. e assim a vida anda em círculos.

em busca do tempo perdido

em 1994, comprei o primeiro volume de Em busca do Tempo Perdido, do Proust. Não consegui ler. hoje, 15 anos depois, abro de novo o romance e tento engatar. é uma questão de honra para mim ler Proust. mas estou achando uma chatice.

na dinamarca

i ching

no iching, paz significa presença de movimento. guerra é estagnação.

sonho

sonhei novamente com cobra (é um sonho recorrente). Era imensa e estava enterrada. Ela era mansa e falava. Me disse que tinha dor de cabeça porque vivia enterrada.

a dor da despedida

alguns momentos são de despedida, a gente se perde do outro. basta um único instante de turning point, como dizem os ingleses, em uma tradução que não existe fielmente na língua portuguesa. pois eu venho me perdendo de algumas pessoas em breves espaços de turnings points. tenho a nítida certeza de que dali em diante, nada será como antes. são escolhas que os outros fazem, ou que nós fazemos sem ter muita consciência. doem. estou assim, in blue (de novo os ingleses, com um cor para significar o sentimento da melancolia), pela partida de uma amiga. mais uma que se vai, mesmo estando presente. o que eu quero dizer é que naquele momento nós fizemos a opção muda de nos afastar, isso não significa que deixaremos de nos ver, pelo contrário, podemos até nos ver vez em outra, mas que nos afastamos, disso não há a menor dúvida.

placa na estrada

aproveite que a crise chegou: PF a R$ 5,90.

itu

fim de semana na casa do Rodrigo e Lúcia no condomínio Vila Real. descansamos, comemos, bebemos, lemos, andamos. nina e lobinho livres como bichos que são. nina quase matou um ganso, caçadora que é. lobinho entrou no açude, lembrando sua infância e juventude em água branca, na Paraíba. Sofia, Artur e Alice são umas graças. A primeira quase adolescente, o menino um descobridor de si mesmo nas infinitas traquitanas que bola a cada minuto e a Alice é uma pequena princesa, que vive num mundo de fadas e bruxas, com muita personalidade. foi uma delícia conviver com eles.

voltei

ufa. quase um mês sem escrever aqui. mas escrevendo ali e acolá.
o tempo se acelera, come a própria cauda. se bobear o tempo passa e a gente nem percebe.

elena codeca

em 1990, elena codeca e seu marido giorghio foram a berlim na exposição do sergio. compraram dois dos maiores quadros. em 2007 giorghio morreu. elena ficou viúva e navegando na internet encontrou o site do sergio e começaram um diálogo. ficaram amigos virtuais. em 2009, elena pega um vôo da swissair vindo de zurich para são paulo. fomos sergio e eu buscá-la no aeroporto. ela veio para a exposição dele aqui em sp. está hospedada em nossa casa. é libriana, como eu, nasceu em 25 de setembro de 1963. ascendente escorpião, como o sergio. ficou nossa amiga. e agora pensa em passar uns dois meses aqui no brasil. vai alugar um flat e ver o que acontece. a vida, é bonita, é bonita e é bonita.

olhuda

casório

tempos de renovar

"dizem os ocultistas que na primavera surgem oportunidades para as pessoas começarem a se harmonizar com a mudanças que ocorrem, não só no mundo exterior como dentro do próprio organismo. é a época da renovação, própria para mudar o modo de pensar, as atitudes de vida, as disposições, enfim, preocupar-se com uma limpeza interior.

"Anna Maria Costa Ribeiro, em Conhecimento da Astrologia

meu tutor

no sábado, dia 5, eu entreguei os dois últimos capítulos do meu livro para o co-editor dar seu parecer. ainda não terminou, mas já me deu um alívio imenso. sou uma trabalhadora incansável, só descanso mesmo com a tarefa feita. tenho sol na seis e para quem conhece um bocadinho de astrologia, sabe que é o trabalho que me ilumina. minha rotina me ilumina. engraçado, sempre achei que fosse um pouco desregrada, mas quando cresci percebi que eu luto para ser desregrada, mas tenho um velho tutor dentro de mim que me faz fazer tudo direitinho. ele é quem me faz sorrir e ter orgulho de mim mesma. meu tutor é quem me dá os parabéns. no ponto final.

domingo dormindo

ontem relembrei como é possível dormir o dia inteiro, com entrega, com qualidade de sono, reparando os cansaços, os medos, as tristezas, os trânsitos. acordei às 7h tomei café deitei e dormi de novo até às 9h30. me arrumei. íamos sair, passear pela cidade. começou uma chuva, uma chuva como uma mãe que interviu na hora certa: era para a gente descansar não para a gente sair. tentamos ver um filme, dormimos. acordamos, almoçamos, tentamos ver outro filme, dormimos. acordei 18h40. fiz uma sopa de cenoura com gengibre e sementes de cardamomo que comprei na feira. tomamos, vimos um filme: Revolutionary Road - Foi Apenas um Sonho, com a kete Winslet e o leonardo Di Caprio, muito bom! depois, deitamos e dormi. só acordei hoje, 8h20. estão tão descansada que até sorrio com os poros.
um vento de um segundo
e nosso olhar parou o tempo
dançou o ar
esvaziando pensamentos
naquele instante nascia
como brisa
a respiração do nosso amor

quando entrar setembro


e as boas novas andar nos campos....

espero por dias melhores no mês da primavera. no meu mês.
agosto me deixou de lundum. um pouco cansada, um pouco dormindo, um tanto melancólica.
mas vai passar.

depois volta de novo. é assim a roda da fortuna da vida.

facebook

depois que entrei no facebook já almocei com uma amiga que não via há 5 anos. teclei com outra que morou por 13 anos em londres e está de volta a SP, já vi fotos dos filhos de uma terceira amiga. Já crescidos e lindos. As redes sociais são uma forma de manter certos vínculos que no tempo real seria impossível ou improvável. Pessoas que você se desviou, porque pegou outro caminho, mas que de certa forma moram em seu coração (ou ao menos moram num pedaço de sua vida). Acho que é uma revolução mundial. Tão revolucionária como foi a internet. E está aqui para nos falar sobre a interdependência. todos estamos conectados. é isso aí. mostra a sua cara no facebook e me procura.

espaço maranus

roberta ferraz, minha querida amiga, está promovendo alguns cursos de Astrologia e Filosofia em seu novo espaço: Maranus. Maiores contatos: www.espaçomaranus.blogspot.com
entrem lá.

a música das palavras

é incrível como eu digito palavras na minha vida. passo o dia todo, escolhendo as letras que melhor combinam entre si. a com i, g com u, j+u+n+t+o. gosto disso. é como combinar peças de roupas. precisa ter música, ter ritmo e melodia. escrever é batucar sons vogais e consoantes.

a íris da cor

...

alguns trabalhos

exposição do sergio no citibank

escrever

estou escrevendo tanto para os outros que fico sem tempo de escrever para mim. para meus amigos. para meus leitores. simples assim. vazio assim.

irmãs

quando eu era pequena um dos meus passatempos favoritos era vasculhar o armário da minha irmã. bastava ela sair que lá ia eu para o quarto, abrir o guarda-roupa dela e fuçar pela centésima vez a mesma caixinha com as bijuterias, a outra com os bilhetes e cartões-postais que ela recebia do kiko, da mamãe, de alguém da família. e depois dessa investigação minuciosa, eu subia para as gavetas das roupas. tirava uma a uma, experimentava, combinava peças diferentes e depois recolocava tudo no lugar. mas um dia, ela voltou mais cedo e me pegou com a boca na butija. apanhei feio, de cinta e tudo. quando meu pai chegou eu botei a boca no trombone e berrei que ela era uma bruxa, uma víbora que tinha me marcado para sempre com a fivela do cinto. nunca vi o meu pai tão bravo. ele ficou uma onça com ela, lhe deu uns tapas e passou o maior pito. eu fiquei de canto, só olhando, feliz da vida.

a dor de garganta

desde pequena eu sofro com a garganta. vivia inflamada. até que o dr Bicudo, o médico da nossa família, disse a minha mãe que precisava operar. lá fui eu pro hospital são luiz, da Santo Amaro, para cheirar éter e tirar as amígdalas. lembro que não doeu nada, que quando acordei perguntei para minha mãe que horas ia ser a operação, no que ela respondeu que já tinha sido. fiquei maravilhada. lembro também dos dias pós-operatórios: eu só podia tomar gelado. foi uma maravilha - muito sorvete e refrigerante ginger-ale. muitos anos depois, estou em casa quando sinto a garganta arranhando. e cá estou eu com ela inflamada e doendo para caramba. acho que é saudade de colo. acho que é vontade de não falar muito. ou de falar tudo. não sei. para isso precisaria de uma mãe para dar colo, e um psicólogo para me ouvir. como não tenho nenhum dos dois à minha disposição, estou aqui na frente do computador. às vezes escrever cura.

o farol da rebouças com a brasil

a diversidade dos gêneros humanos se poliniza numa das esquinas mais lotadas de carros de são paulo. ali fatalmente há congestionamentos longos. filas indianas de automóveis de todas as cores e tipos. a maioria deles com apenas uma pessoa. nesse ambiente de consumidores potenciais, nada mais propício para vender utensílios úteis, como marionetes, mapas gigantes da américa latina, brasil e rússia, panos de prato com sianinhas, incensos, campanha antidrogas, campanha pró-idosos, campanha contra senadores corruptos. campanha pelos cegos, pedido de ajuda "estou desempregado, preciso sustentar minha família", etc e tais. um dia desses eu era uma dessas consumidoras potenciais e pela minha janela desfilou vários vendedores. primeiro um hare krishna que me abordou com uma coleção de livretinhos que falavam sobre a maravilha da macrobiótica e depois com os já citados incensos. "não, obrigada!" depois veio o vendedor de mata-mosquitos, uma espécie de raquete de tênis eletrizada que você liga e esturrica os pobres dos pernilongos. "não, obrigada". depois veio o ceguinho da laramara, uma ong, ajudado por uma moça. "desculpe não tenho trocado." passou também o cara com rosas vermelhas, outro com copos-de-leite, e por fim, um monge franciscano. sim, daqueles com carequinha raspada e túnica marrom. queria me vender não sei o quê. fiquei curiosa. o sinal abriu. a buzina de trás tocou e eu acelerei. mas pelo retrovisor deu para vê-los todos juntos - o hare krishna com o monge e o cara dos mapas, o florista, o cego, o vendedor da raquete assassina de mosquitos - todos eles conversavam na calçada do lado direito da Avenida Brasil. Brasil, meu Brasil brasileiro. Vou cantar-te nos meus versos.

yoga no sábado

delícia de manhã, com yoga bem cedinho. respirações, asanas e meditação. ficamos 17 minutos meditando, pareceram 5. passa rápido, mas no final tudo formiga, pés, pernas. a tentação de fugir da posição é imensa. a vontade que acabe também. mas aí você foca de novo na música rítmica dos sinos que tocam. e percebe como é bom aquietar a mente.

sábado no bom retiro

bom retiro é um bairro muito tradicional de São Paulo. antes era dos judeus, agora é dos coreanos. lá tem a josé paulino, o maior shopping popular de rua da cidade. olhando bem entre as infinidades de tranqueiras, você acha uma blusinha que vale a pena. lá tem também o parque da luz, a pinacoteca do estado, o museu da língua portuguesa, o acrópolis, um dos melhores restaurantes gregos em terras paulistanas e o buraco da sarah, agora chamado de bistrô da sarah. um restaurantinho super simpático com self-service de comida judaica e uma caipirinha que inventei na hora - de limão com erva-cidreira. pois foi lá que fomos no sábado de manhã. primeiro dia de sol depois de tanta chuva cinzenta. encontramos o paulinho e ana, voltamos de metrô, paramos na real compramos pudim e viemos para casa para eles conhecerem. conversa vai, conversa vem, copos enchem e esvaziam, ficamos na imensidão das descobertas mútuas. um dia delicioso com pessoas que moram no coração. como o bom retiro vive no coração de spaulo.

harry potter and the half prince blood

I recommend.

"seja a mudança que você quer ver no mundo"

MAHATMA GANDHI(1869-1948)

a minha casa

tem uns barulhos esquisitos. as portas dos armários rangem, os sussurros do quarto ao lado vazam pelas frestas, as louças sendo lavadas na cozinha reverberam. a acústica ainda é alta para meus ouvidos. amanhã, dia 29, faz dois meses que nos mudamos. a casa ainda não emudeceu para mim. ainda acordo com os ruídos estranhos. ainda desperto com o galo que canta - sim aqui ao lado tem um galo que canta - em plena perdizes. são paulo às vezes é um encanto de cidade. quando a vizinha rosa chega, eu também ouço. assim como a nina me ouve quando estaciono no 1S. a minha casa é uma caixa acústica, amplifica os sons de nossas vidas. a minha casa. (como é bom usar o pronome possessivo)

quando termina um livro

dá uma saudades dos personagens, da trama, você fica querendo saber mais do que o autor contou. eu nem consigo me concentrar direito no livro seguinte. estou com tantas saudades do john lennon que ainda não engatei na carmem miranda.

a partida

daniel e sarah estão indo embora. depois de 30 dias aqui em casa, brincando, rindo, falando alto, deixando trilhas de roupas pelo caminho, esquecendo de tirar o prato da mesa, não lavando os copos. foram dias de jogatinas, de cerveja, de pizzas, de muito prazer. alguns quilos a mais no corpo e muitos quilos a menos na cabeça. a vida fica mais leve com a juventude por perto. o fato é que a hora da partida chegou e tudo parece que entristece um pouco. a nina já cheirou a ida, e começa a se coçar e se comer. minha cachorrinha chow-chow é uma espécie de vidente masoquista. quando pressente que alguma mala irá se arrumar aqui em casa ela já começa a se automutilar. a bichinha. acha que eu vou viajar, acha que o sérgio vai viajar. ela é canceriana típica. sofre por antecedência. tem um medo contínuo da partida.

passarinhar



coruja é uma ave de rapina. e eu nem sabia, descobri na matéria sobre birdwatching que fiz semana passada para a revista Eurobike.

no meio do caminho existe uma palavra

já acordo com elas. pasta de dentes e escova, no banho, shampoo de mate verde, ou angélica, mato, floresta, a touquinha de plástico fica pendurada no ganchinho. a touquinha tem uma nuvem silkada com alguns respingos de água. água cai do chuveiro, o piso é novo, o banheiro é novo, tem adesivo na parede, de passarinho. meu corpo aquece e o pulso ainda pulsa e o dia está cinzento, a colcha da cama branca fica mais triste e eu desço e tomo chá de gengibre e vou para a yoga. chave, carro, som, eldorado FM, abrir o portão, sair, virar à direita, ir reto, passar uma, duas, três, quatro ruas, e ir em frente, atravessar um, dois, três sinais e aí eu chego. subo as escadas, bom dia, passo a catraca, bom dia, subo outras escadas, bom dia, bom dia, chego na sala, bom dia, tiro o tênis, sento e cruzo a perna, o pé ainda dói, e o corpo ainda é pouco. respiro. silencio. o mundo fica imenso dentro de mim. sem palavras.

preciso parar

estou com saudades de mim. ando pouco recohida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. onde está eu? preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim - enfim, mas que medo - de mim mesma.

clarice lispector

a volta da magia

o mundo precisa acreditar. as pessoas precisam acreditar. existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã imaginação, já disse shakeaspeare há uns 500 anos. e a humanidade insiste em colocar um véu à sua frente e não perceber os tecidos mágicos que se entrelaçam à nossa frente. sincronicidades, telepatia, transmissão de pensamento, a fé que move montanhas, literalmente. é só crer para ver. simples assim. basta lembrar.
ou então assistir ao último harry potter. estão lá os sinais, os mundos paralelos, as forças invisíveis do bem. eu acredito em bruxas e bruxos.

doce

o doce que eu mais gostava quando era pequena era um pavê de banana que a minha mãe fazia. na mudança, fiquei às voltas com os cadernos de receitas da mamãe atrás do doce de banana. não encontrei, mas vi muitos cardápios que fizeram parte da minha vida na barão de tefé: carne louca da tita, lombinho de porco com ameixas pretas da hilda, bolo de fubá da olga, arroz de forno da carminha. minha mãe sempre anotava os nomes das pessoas que tinham passado a receita para ela. parece que assim ficava mais fácil de lembrar a gostosura do prato.

ruy castro entrevista joão gilberto

havia um ano que ele estava fazendo a apuração para o Chega de Saudades e nada de conversar com o joão gilberto. como ele era uma das fontes mais importantes para o livro, estava deixando a entrevista para o fim, quando já estivesse mais matriculado no assunto da bossa nova. quando não dava mais para protelar, entrou em contato com um amigo jornalista que conhecia o joão e pediu dicas de como se aproximar dele. No que o amigo responde: ruy, cuidado com o joão porque a voz dele te hipnotiza. você esquece a pergunta que ia fazer e fica ali, totalmente atraído, por aquela malemolência. cuidado com o joão.
ruy então se preparou, se concentrou e finalmente ligou para o joão gilberto, se apresentou, disse que estava fazendo um livro, etc e tal. no que do outro lado da linha joão responde: ruuuuuuy, queeeee prazerrrr falarrr coooooom você. no que eu possooooo te ajudar?????? ruy, ficou sem falas. esqueceu a primeira pergunta, hipnotizado pela voz do outro lado. seu amigo tinha razão: joão é uma cobra.

a luz e sombra dos gênios

sempre que aparece uma biografia séria de alguma personalidade marcante da história, as luzes e sombras de seu caráter e vida vêm para o palco. e todos o que li têm sombras do mesmo tamanho que suas luzes. quanto mais carismáticos e populares, mais escuridões revelam dentro de si. john lennon, o líder pacifista autor de Imagine (uma bobagem em comparação a Strawberry Fields Forever, por exemplo) era um jovem muitíssimo perturbado, agressivo e que fez mal a muitas pessoas perto dele. Por outro lado, fez um bem enorme para seu público. foi inspiração para muitos mas não conseguiu ter atitude digna em relação à ex-mulher Cynthia, ao pai e a muitos amigos. john era ambíguo. feio e bonito. egoísta e altruísta. suave e agressivo. tudo junto. lado a lado. é isso que faz dele uma pessoa interessante. a imprevisibilidade. foi assim também com tantos outros nomes. é isso aí. a natureza humana em suas cores mais intensas cria os seres humanos que valem biografias.

sábado à noite

eu aqui em cima escrevendo o capítulo do meu livro. sérgio e os meninos lá embaixo, jogando war. de vez em quando ouço: - três a dois em vladivostok. war me ensinou mais geografia que o professor Perides.

de john lennon

"se eu vivesse na Antiguidade, teria morado em Roma. hoje os estados unidos são o império romando e nova york é a própria roma."

pois ele mudou-se para lá para sempre.

muppets para alegrar a semana que entra

sr Aloísio

um dia eu estava em casa na Barão de Tefé, quando tocou a campainha: era o vendedor do Círculo do Livro. Era uma festa quando o Sr Aloísio chegava com o catálogo. eu sentava ao lado do meu pai e juntos escolhíamos os títulos que iríamos comprar. meu pai sempre deixava eu escolher um, enquanto ele próprio comprava uns 4. foi assim que comecei a ler Agatha Christie e foi com ela que peguei o gosto da leitura. como eu só podia comprar um livro por mês, eu ficava enrolando para começar a ler, pois sabia que a partir da primeira página seria impossível parar. O Sr. Aloísio, que já conhecia nossos gostos, muitas vezes aparecia com sugestões. um dia, tocou a campainha e era um outro vendedor do Círculo do Livro. Perguntei: ué, cadê o Sr. Aloísio? "o sr Aloísio prestou concurso e entrou para os Correios. Virou carteiro!" Aquilo ficou marcado em mim, e pensei: o Sr Aloísio vai continuar entregando palavras, mas ao invés dos livros, as palavras das cartas.

para inspirar

"Não é a resposta que esclarece, mas a pergunta."
Eugene Ionesco

além ar

nos últimos dias algumas pessoas importantes morreram: o popstar, a pantera, a coreógrafa pina bausch, o publicitário tomás lorente, 47 anos e o escritor rodrigo de souza leão, 44. além de tantos anônimos no vôo que caiu no iemen e outros na vida do dia a dia. pessoas que morrem de morte morrida mesmo, natural. quem cai na banheira, quem bate o carro, quem dorme e não acorda, quem adoece e pouco a pouco vai embora e outros que mal chegam e já se vão. nesses últimos dias faz 3 anos que minha irmã morreu. por isso esse assunto está em mim. o que existe além ar?

michael jackson parou o trânsito

hoje na paulista uma enorme concentração de pessoas devidamente registradas pelas câmeras do SBT cantavam e dançavam Michael Jackson. Meninos, moços, moças vestidos a carater tentavam imitar os passos do criador de Thriller. Ao som de "Beat it" se divertiam e homenageavam seu ídolo. todos os carros parados, sem buzina. motoristas sorridentes. pedestres sorridentes. alguns até ensaiavam uns passos de dança.

é isso aí. o mundo vai perdendo um a um seus grandes ícones. tenho a impressão que nesses novos tempos que começam agora não caberão mais ícones imensos, como foram john lennon, elvis presley, michael jackson, martin luther king... agora começa a era dos pequenos ícones, eu, você, nós, vivendo em paz com os valores comuns ao planeta e,
por isso, sendo exemplos para os outros.

sem drogas, sem ilusões, sem máscaras, sem pílulas, sem a busca pela eterna juventude, sem as grandes multidões para aplaudir. no novo mundo seremos todos astros e público. palco e platéia.

marlene dietrich em diamantes por vik muniz

o mundo feito com restos de computador por vik muniz

um pedaço de algodão por vik muniz

vik muniz no masp


exposição imperdível. para crianças e adultos de todas as idades verem como transformar todos os tipos de objetos possíveis em obras de arte. sucata, pedaços de papel, restos de computador, serpentinas e confetes, macarrão, doce de leite, caviar, diamantes. tudo vira imensas obras de arte que depois são fotografadas por ele e expostas.

é o artista brasileiro mais consagrado lá fora. ao lado de beatriz milhazes.

olhem só um autorretrato feito com bolinhas de papel.

lá no céu existem fotos de família?

meus irmãos pequenininhos



minha irmã suzana está toda coquete em seu vestidinho. eu tenho tantas saudades dela.
essa história das pessoas irem embora quando ainda temos tanto a falar é realmente muito difícil. nesses dias, por exemplo, em que mexo e remexo nas caixas e coisas de antigamente, me sinto invadida pela suzana. onde será que ela está? no céu ou nas estrelas?

meu avós num casamento?



parece mais enterro.

casamento meus pais

venenos de família

Assumpta era de Careggine, vila perto de Lucca, na Toscana. Antônio Luiz (Tonico) era de Campos do Meio, Minas Gerais. Ela veio para o Brasil no começo do século XX, com as irmãs. Não sei se os pais também. Ele era um fazendeiro, neto do Barão de Pontal, filho do Vovô Chiquinho, um grande pecuarista e abolicionista. Antes de morrer, vovô Chiquinho doou a terça-parte de suas terras para os escravos. E foi morto com cicuta, parece que por seu sogro, o Barão, que era um grande escravagista. Isso é o que contam. O sogro mandou envenenar o genro por causa de suas ideias e das terras. Só que o veneno saiu pela culatra, pois a minha bisavó, filha do barão, também morreu nessa artimanha. E assim, os pais do vovô Tonico, morreram com 40 dias de distância um do outro, os dois envenenados. Deixaram 4 filhos. Um deles se casou três vezes, a última delas com a Assumpta e tiveram 8 filhos. Um deles é minha mãe, que se casou com Paulo, também mineiro de Divinópolis e tiveram 4 filhos, um deles sou eu.

minha avó Assumpta e meu avô Tônico



da caixa das fotos, o passado ganha força.

bagunças assanhadas

hoje tirei o dia de folga. resolvi não escrever, não trabalhar. arrumei minha casa e a impressão que tenho depois de um dia inteirinho de sobe e desce, anda e desanda, tira e põe, parece que está tudo pior do que estava!!!! é que estou começando a tirar a bagunça de dentro dos armários. antes elas estavam protegidas, agora estão escancaradas. bagunças assanhadas!

meu território

são 135 metros quadrados. e não é que a gente conquista tudo assim de uma vez. não! tudo se dá aos poucos... a cada dia, a cada minuto eu conquisto mais um pedacinho.

Raul Seixas na reunião

hoje numa reunião com um especialista da Amazônia: (e ele não era um militante estressado, nem um ecochato, longe disso)

- "Você sabia que a Amazônia já está toda vendida, né?"
- "Não, dessa maneira que você está falando, não", digo eu.
- "Pois in-tei-ri-nha loteada, alugada, vendida. Não temos nada mais nosso. Que soberania nacional, o quê!"

Eu, estupefata.

Ele continua:

- "O Greenpeace, por exemplo, tem uma imensa área que mandou cercar com aramados, e colocou várias placas, com os dizeres: Não entre. Propriedade particular Greenpeace! E a coincidência é que essa área tem uma incrível biodiversidade e muitos mananciais de água. Se era para pesquisa, eles deveriam ter pesquisadores lá. Não tem. Só tem vigias. Se é para preservação deveriam cercar toda a Amazônia..."

Eu, triste.

Ele continua:

- "O Greenpeace é financiado pelo governo americano."

Na hora me lembrei do Raul Seixas, com aquela música profética em que ele diz:


A solução pro nosso povo
Eu vou dar
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...

Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está prá alugar
Alugar! Ei!
-Grande Solução!...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros outro entrar
Pois esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros gringos entrar
Pois esse imóvel
Está prá alugar...

Está Prá Alugar Meu Deus!
Nós não vamo paga nada!
Nós não vamo paga nada!
É tudo free!
Vamo embora!

solidões

por que eu sinto tantas solidões aos domingos? pedaços de solidão espalhados aos ventos. estou sempre querendo que venha logo a segunda. para espantar essa tristeza pré-fabricada.

saudades das minhas amigas

cadê vocês? nininha, narizinho, nini, anona, lili, loló, silvaninha? onde vocês se esconderam?

caixa de fotos

nina

lobinho

momentos de amor

paúba, litoral norte de SP

canavieiras, bahia

meu apartamento

é lindo, ventilado, iluminado, boa energia. que todos que estejam aqui vivam bem, em paz e harmonia. os cachorros estão felizes, as plantas estão felizes, até os objetos sorriem.

à beira do rio, à beira do mar

sergio e eu fomos a dois casamentos no último mês. um em visconde de mauá - de frente para a cachoeira; outro em barra do una, de frente para o mar. o primeiro casal - sylvia e guto - estavam frescos em seu matrimônio, o outro casal - a dani e o alê - comemoraram 10 anos de união. a filhinha deles, valentina, entrou com as alianças nas mãos e, muito compenetrada, deu a caixinha para o pai. a mãe entrou de mãos dadas com o pequeno oliver. nos dois casamentos chorei muito, fico feliz com o amor demonstrado. acho que é disso que o mundo precisa para não se calar. amai-vos uns aos outros.

pedaços de mim

mudamos enfim. eu com o pé no gesso e com a cabeça cheia das tantas caixas da lusitana por todos os lados. cararecos, bugigangas, pedacinhos de mim espalhados por todo o canto. porta-retratos, velas, bijuterias, roupas, roupas, roupas, pratos, louças, cristais, prataria,, livros, papéisssssssssss, psssiu. às vezes me dá uma vontade de um silêncio de objetos. mas sou fruto de algumas heranças. da minha vó, as louças de porcelana inglesa. da minha mãe, os cristais de seu casamento. da minha irmã as travessas pintadas. enfim. daqui a pouco chega no fim. (só faltam mais duas caixas!)

imagens de mim

hoje abri a caixa de fotos da mamãe e lá iniciei uma viagem ao passado. meu, de meus pais, tios, irmãos. vi o meu avô e minha avó em foto oficial. ela tão bonita, e ainda não endurecida pela vida. vi meu pai de terno branco andando por Belém do Pará com um amigo. Devia ser final dos anos 40. Vi minha mãe de espingarda em punho para matar os passarinhos - ela adorava atirar! - vi minhas tias elegantes em frente ao Pão de Açúcar. Vi a mim nos meus brinquedos de infância. Vi uma festa que minha mãe preparou para mim e minhas amiguinhas do Externato Assis Pacheco, ao fundo um pedaço do sofá de curvim branco que colori com canetinhas sylvapen. vi as fotos oficiais do colégio. minhas amigas de antigamente: Syomara e Marineide. vi, vi, revi. joguei algumas fora - de pessoas que não tenho idéia de quem são, fotos repetidas, parecia até uma neurose - havia 12 cópias da mesma foto. enfim, uma limpezinha sempre vai bem. conclusão: estou feliz depois desse mergulho nas imagens do passado. ajudam a explicar o presente.

arnica x antiinflamatório

arnica é natural, mas seus efeitos são mais lentos.
antinflamatório é artificial, mas seus efeitos são pá-pum.
a escolha depende da paciência de cada um.

a vida com o pé para cima

nesses dias de imobilidade, percebo quantos movimentos realizo a cada dia e não dou a menor atenção! subir e descer escadas por exemplo. talvez faça isso umas duzentos vezes ao dia, sem a menor consciência. mas com o pé imobilizado, eu penso duas vezes antes de subir os degraus, fico guardando a vontade de ir ao banheiro, porque é um trabalho imenso, subir sentada, apoiando o corpo nos braços e levantando a perna com a charmosa bota imobilizadora de modo que ela não toque nos degraus. mas está sendo terapêutico tudo isso. por que engessar a perna de novo? a mesma, pela terceira vez! enfim... preciso mesmo aprender a olhar por onde piso.

200 reais

tudo é duzentos. qualquer servicinho . trocar lâmpada? duzentos. converter o fogão para gás de rua? duzentos e dois reais. instalar a coifa? R$198,00 (quase duzentos). arrumar o box? duzentos. as persianas? trocar e alinhar? 400,00 (duas de duzentos). instalar luminárias? duzentos. estou com uns 10 cheques de duzentos voando por aí.

o incrível caso da bota imobilizadora

ontem. 15h30 mais ou menos, abro a porta da rua para o lobinho descer e aliviar sua bexiga, no que ele foge para a rua - o portão estava meio aberto e ele não teve dúvidas - eu saí correndo atrás e torci o pé na escada. conclusão: torção, estiramento dos ligamentos e gesso por uma semana. repouso total. sem pensar em colocar o pé no chão, diz o médico.

quando ainda estava no pronto-socorro fui encaminhada para a sala do gesso. lá dentro um simpático enfermeiro começou a preparar o meu gesso. e enquanto rodeava gaze pela minha perna, desandou a falar:

- o médico não falou para você colocar a bota imobilizadora?
- sim, ele disse que eu poderia usar, mas falou que custava R$ 250,00, e, por isso, achava que não valeria a pena.
- custa R$ 250,00 aqui no hospital, lá fora custa apenas R$ 105,00.
- é... aí já começa a ficar melhor.
- com a bota é muito melhor, você pode tirar, fazer compressa com gelo, que é um antiinflamatório natural e muito potente, pode lavar o pé, fazer massagens.
- mas eu acho melhor não mexer muito, afinal o médico disse que quanto mais imóvel eu ficar, melhor.
- mas a bota imobilizadora deixa o pé imóvel. é ótima, não tem contra-indicação. e uma coisa eu te digo: quantos dias o médico falou que você vai ficar com o gesso?
- uma semana
- de jeito nenhum, pela aparência da sua torção vai ficar muito mais que uma semana
- credo, vira essa boca para lá
- eu sei o que estou falando. tenho experiência. e ainda mais pelo seu jeito, acho que você é agitada, não é?
- sou
- não consegue ficar parada, não é?
- não
- pois bem, a bota imobilizadora é a melhor opção. não tem nem dúvida, se você ficar com o gesso pode escrever aí uns 40 dias, com a bota vai ser só uns 20 dias.


nisso, ele termina de colar o último esparadrapo e, quando estamos nos preparando para deixar a sala, ele se dirige ao meu Sérgio e pergunta:
- qual é o seu nome?
- Sérgio
- aha! meu xará!!!
e tira um cartãozinho do bolso e estende para o Sérgio.
- aqui está! se vocês quiserem comprar a bota imobilizadora, esse telefone é o melhor preço da praça e entrega em casa no mesmo dia, sem custo. é só falar comigo mesmo!
abre a porta para nós
- e lembre-se, com a bota imobilizadora é muito melhor. tchau e até a semana que vem.

detalhe, no cartãozinho estava escrito uma relação de produtos ortopédicos e o nome dele bem grande. centralizado.

fui feliz para sempre

primeiro encontro. domingo, 18 de um julho. frio. vinhos. amigos. e entre as palavras e os silêncios ele me olhou para sempre.

a biografia de uma reforma

é incrível como no começo tudo anda rápido. as paredes caem a 300 km/h, os ambientes mudam totalmente ao som das marretas. aí você pensa, "nossa tudo vai ser muito mais rápido do que eu imaginava". porém, à medida que os dias passam, tudo vai parando, como as tardes de domingo em cidades de interior. nada acontece. os tilojos que caíram, ainda estão lá amontoados, esperando pela caçamba. se reparar bem, você percebe que as coisas estão andando, mas é dentro das paredes. tubos e conexões vão sendo colocados nas vias cavadas. a obra acontece naquele interior obscuro. aí mais alguns dias passam e as coisas voltam a se mexer. o chão começa a ficar mais liso, as paredes de tijolos ganham as primeiras mãos de tintas e aí vai chegando o finalzinho. e é quando tudo ralenta de novo. faz duas semanas que parece que nada anda. e por mais que você saiba que o chão de madeira foi raspado, que os móveis estão sendo pintados, gaveta por gaveta, estante por estante, que o chão do banheiro foi impermeabilizado, parece que está tudo como há 15 dias. e é nessa fase que eu estou. dia sim dia não vou na obra do meu apartamento e fico me perguntando: será que vou conseguir me mudar no dia 29? depois eu conto.

inventário de um domingo

15 graus lá fora, um ventinho que sopra fininho como a voz aguda de uma cantora lírica. eu aqui dentro, nina aos meus pés dormindo, lobinho aconchegado em seu paninho. de vez em quando um deles se mexe ou faz barulhos como quem está sonhando. se eu me levanto, eles me acompanham com os olhos, principalmente ela. se eu fico aqui sentada trabalhando, eles se esquecem da vida. eu tento me concentrar. tenho dez trabalhos para resolver hoje. ao meu lado uma montanha de livros esperando para ser encaixotados, revistas, caderninhos, folhetos, catálogos de lojas, contas a pagar, boletos bancários, esmaltes, acetonas, uma bolinha para massagear as mãos, um são jorge que tinha quebrado a cabeça mas o sérgio colou, duas canecas com as alças quebradas cheias de lápis e canetas e um vidro vermelho do perfume humor que ganhei das meninas da natura. à minha frente a tela do computador sendo preenchida por letras, palavras, frases. sou uma invenção de mim mesma. minha vida está cheia de objetos. minha cabeça lotada de pensamentos. sou uma profusão. daqui a pouco almoço com o que tem na geladeira. daqui a pouco sérgio chega de seu atelier. daqui a pouco o domingo termina e começa a segunda. daqui a pouco amanhece outro domingo. daqui a pouco, verão.

visões do documentário 2

curso na casa do saber: visões do documentário, com palestras de quatro grandes nomes desse 'gênero' de cinema - eduardo coutinho, carlos nader, cao guimarães e joão moreira salles.

eles compartilham comigo o gosto pela vida dos outros.

visões do documentário

cao guimarães, documentarista e artista plático mineiro, diz que o documentário é o cinema do descontrole. você não tem um roteiro para te guiar, é ligar a câmera e ver o que a câmera te dá. é assim como na vida. por mais que se procure fazer um roteiro, não tem como prever as situações.
nossa vida é o documento da nossa história.

o fio das missangas

" A missanga, todos a vêem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo."

Mia Couto, escritor moçambicano.

o tempo do meu apartamento

está quase pronto. quer dizer ainda faltam 15 dias de reforma mas a Juliana, minha querida amiga e arquiteta, disse que tudo vai estar pronto para o dia 29. às vezes acho que chega o natal mas não vem o 29 de maio.

nunca tão poucos dias demoraram tanto a passar. uma prova de que o tempo é mesmo relativo. depende do nosso entusiasmo e entrega e ansiedade e vontade de que a página vire e mude de capítulo. às vezes quando o queremos lento, ele bate rápido feito asas de beija-flor. quando queremos que se apresse, ele dá uma de pangaré e caminha lentinho. tem horas que até empaca.

estou tão feliz pelo tempo beija-flor que breve virá! é isso. já feliz hoje. nesse tempo pangaré.

made in copy

acho incrível esses sites de tendências que pululam por aí e pelos quais se paga algumas centenas de milhares de dólares por ano para saber que tipo de texturas estão se usando nos tecidos dos sofás em dublin; ou qual a cartela de cores da suvinil de amsterdã ou ainda qual a novidade nas embalagens de shampoos anti-pulgas para cachorros. um deles é o wgsn ou world global style network. é bacana, porque tem gente espalhada no mundo todo, andando pelas ruas em busca de novas tendências estéticas. são raios x do novo que compilam seus furos de reportagem em uma linguagem simples e clara. se, por um lado, eu acho legal, afinal chega tudo mastigado para você - uma espécie de clipping das novidades - por outro lado acho um problema pois as pessoas não usam essas informações como referência ou inspiração para criar, mas sim para copiar. e aí é que está o xerox da questão. é por isso que vivemos num mundo de cópias tão descaradas e - muitas vezes - absurdamente mal-feitas.

um dia desses uma amiga foi em uma famosa loja de moda procurar um vestido para um casamento. chegou lá e viu um vestido exatamente igual a outro que ela havia visto em outra loja na semana anterior!! só mudava o tecido e uma correntinhas extras que a estilista costurou, para aliviar o arrependimento da cópia. pois bem, a minha amiga pediu para experimentar o vestido, no que a vendedora pega um interfone e fala para a moça do segundo andar: - desce aquele vestido Stela Mc Cartney, por favor? Cor creme, tamanho 38. Detalhe a loja não era da Stela Mc Cartney - mas o desenho do vestido parece que sim. Ou seja, as duas confeções copiaram a criação da filha do ex-beatle. ora, ora, ora, aí já é o fim, não é mesmo. assine por favor em duas cópias. precisa reconhecer firma? não, não precisa, vale cópia simples, mesmo.

iansã


sempre gostei de vermelho. sempre gostei das religiões africanas ou afro-brasileiras.
uma vez tirei búzios e saiu que sou filha de iansã - a rainha dos ventos e dos mortos.

dizem que:
"IANSÃ também chamada OYA, é Orixá dos ventos e raios.

Além disto, e Senhora dos Eguns (espíritos dos mortos), os quais controla com um rabo de cavalo chamado Eruexim - um dos seus símbolos.

Guerreira, a mais agitada das Orixás femininas, foi esposa de Ogum e, posteriormente, a mais importante esposa de Xangô. é irrequieta, autoritária, mas sensual, de temperamento muito forte, dominador e impetuoso.

É dona dos movimentos (movimenta todos os Orixás), em algumas casas é também dona do teto da casa, do Ilê. Suas cores são vermelho e branco, marrom terracota ou ainda, rosa.

De acordo com uma lenda Oyá Omo Mésàm (a mãe dos nove filhos) derivou o nome de Iansã.

Sua saudação é EPA HEY !

Eu me identifico com ela. Viva Iansã.

No sincretismo é Santa Bárbara



nanã


nanã é orixá da maturidade para os povos iorubás. para ela se pede a benção.

dona diva

conheci caqui na casa da dona diva. ela era vizinha nossa na barão de tefé e mãe da minha amiga lúcia. almoçar na casa dela era sempre uma novidade. cozinheira de mão cheia, fazia o almoço de todo dia com disposição de fim de semana. nunca vou me esquecer no dia que ela colocou caqui na minha frente - foi uma revolução para o meu paladar. na minha casa não havia essas invenções. éramos tradicionais até no feijão com arroz, como bons e velhos originários das minas gerais. quando experimentei aquela fruta de gomos translúcidos, delirei. cheguei em casa e pedi para minha mãe comprar. mas o engraçado era que o caqui lá de casa não tinha o mesmo gosto da casa da dona diva. grande mulher, ela. morreu jovem e de vez em quando me faz falta.

um bom papo faz bem para todo mundo

john lennon

ele acaba de conhecer o paul mcartney, em liverpool. inglaterra. ele é líder dos Quarrymen. o paul só tem 15 anos. o john tem 17. os dois ainda vão viver muito juntos. eles ainda não sabem disso. estou lendo a vida deles. eles ainda não sabem disso.

enxurrada de vida

às vezes a vida vem tão grande que parece uma enxurrada, sou arrastada pela correnteza dos fatos cotidianos, dos compromissos que tomam as horas. estou sendo levada pela rotina. e não consigo parar.

obra de sérgio lucena em wall paper

daniel senise

exposição magnifíca desse artista carioca
na estação pinacoteca.

sofá de curvim branco

um dia eu ganhei da minha mãe um conjunto de canetinhas sylvapen.
na época o rodrigo e o giovanni, meus primos, moravam em casa.
seus pais tinham ido passar uma temporada na europa e deixaram
os rebentos para minha mãe cuidar. eu devia ter uns 4 ou 5 anos e eles 6 e 7.

no salão havia um lindo, imenso e curvo sofá de curvim branco.
eu tive a idéia e chamei os dois, sentamos os três em frente ao sofá
com as canetinhas nas mãos e começamos a obra de arte.
pintamos tudo, todas as curvas, o assento e o encosto.
acho que minha mãe chorou.

a minha querida amiga de infância

a silvia foi minha vizinha de frente na barão de tefé. descobrimos uma boa parte da vida juntas. até hoje eu lembro dos namoricos, das viagens, das sessões de jogatina na casa dela - jogávamos yam, scotland yard, todas as espécies de jogo de baralho: 21, poker, buraco, tranca, cacheta, king. eu ia embora de madrugada e era só atravessar a rua que eu estava em casa. aí um dia eu cresci, ela cresceu. e nunca mais a gente brincou juntas.

sobre comprar e dar

eu tenho uma amiga que tem um guarda-roupa do tamanho de seus braços esticados. nada mais. o meu guarda-roupa acho que é do tamanho dos braços esticados do cristo redentor. eu gosto de comprar roupa, adoro porque me sinto renovada. como um banho. mas de vez em quando dá uma certa culpa, ou um abuso por ter tantas peças empilhadas. aí eu começo a operação desapego. e eu adoro. é um dos melhores momentos do ano. parece que estou revendo meus próprios valores. sim, roupas para mim são conceitos.

memórias de um cabo de vassoura

lembro que esse foi um dos primeiros livros que eu li para a escola. lembro que adorei. foi a minha iniciação na série 'biografias'

a morte

hoje morreu a mãe de uma amiga. e eu estou sentindo todas as dores da partida.

por que ter um blog?

para aliviar um pouco essa necessidade de escrever que é quase fisiológica. e que faz com que cada dia tenha uma paleta de cor diferente. porque escrever é como pintar. tem textos que são pretos, outros liláses, outros roxos e amarelos, ou ainda magentas e laranjas. por isso que eu tenho um blog. para brincar com as cores.

sou uma pergunta

"quem fez a primeira pergunta?
quem fez o mundo?
se foi Deus, quem fez Deus?
por que dois e dois são quatro?
quem disse a primeira palavra?
quem chorou pela primeira vez?
por que o Sol é quente?
por que a Lua é fria?
por que o pulmão respira?
por que se morre?
por que se ama?
por que se odeia?
por que há o som?
por que há o silêncio?
o tempo?
o espaço?
o infinito?
por que eu existo?"

parte de uma crônica de Clarice Lispector, publicada na Descoberta do Mundo.

a pérola da ostra

meu professor é o rui. ele é tão dedicado à prática e ao conhecimento infinito da yoga que me encanta. cada aula ele traz uma pérola nova extraída de seu oceano de estudos. ele vive yoga e nos transmite essa vida aos poucos em assanas (posturas). as suas palavras têm o poder de esticar meu corpo e expandir minha alma. hoje ele me ensinou que a luz está sempre dentro; o foco está fora e é a gente que escolhe. qual é o meu foco? essa é a grande pérola da ostra. namastê.

rocknrolla

guy ritchie. filme inglês. humor inglês. sotaques vários. vale a pena ver de novo.

os biógrafos

escrever biografia é um dom específico, como um físico quântico, um documentarista ou um engenheiro mecatrônico. às vezes a pessoa escreve bem, mas não sabe escrever fofoca. sabe descrever paisagens, sabe propor reflexões incríveis ou navegar por um universo imaginário maravilhoso. escrever biografias ou captar imagens reais, sem ensaios, é quase um jornalismo.
uma fronteira entre a vida como ela é e a vida como se floreia.

talvez por isso eu me identifique. acho que vou escrever uma biografia.
alguém se candidata para o papel principal?

a vida dos outros

sempre gostei de biografias. quando vou na livraria me dirijo logo à seção dos biografados e procuro uma novidade. a gerente, que já me conhece - naturalmente afinal gasto boa parte dos meus suados reais em seu domínio - me indica um novo livro, uma nova personagem.

ontem fiquei bem feliz porque trouxe para casa o john lennon. livrão. daqueles que ficam parados em pé. quando é assim, é melhor porque aí você sabe que a vida da pessoa teve assunto.

ler a vida dos outros me faz pensar na minha. sempre.
e lembrar da frase de um amigo meu: quem gosta de biografia, gosta de fofoca.
taí, adoro uma longa e bem-escrita fofoca.

bruxa boa

um dia a bruxa boa me falou umas coisas e eu acreditei.
até hoje, cerca de 100 milhões de anos depois, preciso fazer esforço para me lembrar.

bruxa má

um dia a bruxa má me disse umas coisas e eu acreditei.
até hoje, cerca de 100 milhões de anos depois, preciso fazer esforço para esquecer.

Lakshimi

Deusa indiana da beleza e da prosperidade. Elas segura quatro objetos em suas mãos: uma flor, uma corrente, um livro e um disco dourado. São símbolos que representam graça, beleza divina, riqueza - em todas as suas formas - conhecimento, liberdade e poder de destruir o mal. Viva Lakshimi.

uma lágrima

uma lágrima:
água com sal que sai do olho com véu.

drink

tem dias que a tristeza é maior que vida que é imensa e nos bebe inteiros, em um só gole.

sobre escrever

"às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. é na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia."

clarice lispector

glub, glub

estou na imensidão da folha em branco. uma imensidão que parece que vai me engolir.

perfume

aí um dia cheguei em casa da escola e me tranquei no banheirão. um banheiro enorme todo de mármore com um espelho imenso. lá era o meu teatro, eu atuava vestida com as roupas da minha mãe ou da minha irmã. a banheira era meu palco e o espelho, meu público.

pois bem, no banheirão vivia uma rosa vermelha de veludo, solitária num vasinho de cristal.
eu sempre cheirava a rosa e sempre me frustava porque ela não tinha cheiro. ao lado da rosa morava o perfume da minha mãe, um perfume francês, caríssimo (isso eu soube depois) que ela mandava vir da europa (também só soube depois).

pois bem, nesse belo dia eu - tsssshhhhhh - borrifei quase metade do frasco do perfume na rosa.
e desci as escadas correndo, toda orgulhosa, para mostrar minha grande invenção para a minha mãe. ganhei a primeira grande bronca da minha vida!

dona hilda

minha primeira professora no Externato Assis Pacheco era a dona Hilda. não lembro muito das suas aulas mas não esqueço de seus cabelos: pareciam um capacete marrom escuro, muito armados e com um cheiro forte de laquê. ou um bolo de noiva de chocolate. não tinha um fio fora do lugar. dona hilda fazia os cabelos todos os sábados. isso eu fiquei sabendo pela mãe da Adriana Krause que a encontrou no salão. sempre me perguntei: será que ela só lava o cabelo uma vez por semana?
a vida se desenha agora, um traço contínuo que envereda os destinos.

para minha semana

que eu tenha concentração e tranquilidade para desenvolver meu trabalho de forma fluída e criativa. que meus textos inspirem meus leitores.

mario quintana

o silêncio é um espião.
caramujo é uma espécie de minhoca que já vem com casinha.

santiago

um primor do cinema nacional. ato de coragem do diretor em se expor. ato de generosidade da personagem em se revelar.

hai cai antigo

um minuto ou dois de reflexão.
um minuto ou dois de melancolia.
e o que eu mais sinto é a falta que você não me faz.

mudanças

sempre gostei de mudar. lembro que quando era pequena admirava a tia milly, minha madrinha, porque ela já tinha mudado de casa 27 vezes. achava aquilo o máximo. cada casa nova é um motivo de festa, de inauguração. cada casa velha, motivo de festa bota-fora.

na minha família, pelo contrário, havia uma certa previsibilidade que me entediava à beça. mamãe morou na mesma casa por 40 anos e se não tivesse sido praticamente obrigada a se mudar, ainda estaria lá até hoje.

quando cresci, segui um pouco o caminho da tia milly e me mudei várias vezes. onze no total. mas há uns dois anos veio dando uma vontade de assentar, a vontade cresceu e agora, daqui um mês mais ou menos, me mudo para o apartamento que comprei com meu marido.
agora a cigana tem que encontrar outro jeito de se mudar.

biodiversidade

um dos dias mais felizes da minha vida foi quando meu pai me deu duas gatinhas. a catarina e a brigitte. eu vivia com elas para cima e para baixo. nessa época minha casa parecia uma amostra do jardim zoológico: duas gatas, um mico que meu irmão trouxe da bahia, uma cachorrinha que minha tia deixou com a gente por uns tempos e que foi ficando pra sempre, uma fox paulistinha que já era nossa, dois periquitos, um papagaio e uma tartaruga... me sentia parte deles.

escrever para as bonecas

quando eu era pequena, adorava colocar minhas bonecas enfileiradas, para me verem escrever numa lousa grande. depois de rabiscar não sei o quê, me voltava para elas e dava aula, explicava os garranchos, dava broncas, mandava fazer lição, dava castigos, enfim, já nasci com essa insuportável mania de mandar.

frase da semana

"se o amor da sua vida te traiu e você está pensando em se jogar da janela, lembre-se você tem chifres, não asas."

cofre

hoje fui na telha norte comprar torneiras, chuveiros, sifões, flexíveis, válvulas, ducha sanitária, vaso sanitário, pia, cuba entre outros itens tão sexies como esses. gastei uma pequena fortuna. agora já posso dizer que meu apê tem cofre: os reais estão escondidos nas paredes.

suria namaskar

são onze posturas que mudam a vida. você pratica todos os dias e parece que tudo se encaixa, articulações, músculos, tendões, tensões e atenções. é também chamada de 'saudação ao sol'. eu digo que é uma saudação ao sol que vive dentro de nós. suria namaskar tira as nuvens da nossa vida.

cabelereira

sempre tive mania de cabelo curto. todas as bonecas que eu ganhava, cortava os cabelos, a la mia farrow no "bebê de rosemary". um dia minha mãe me deixou na casa da minha prima por algumas horas. fiquei brincando num quartinho sozinha até que me deparei com uma grande tesoura. não tive dúvida: me tranquei no banheiro e passei a tesoura no meu chanelzinho. saí de lá o próprio bebê da rosemary, um terror!

30 mil kms de canos

tenho um amigo há quase 30 anos. um amigo que me dá uma imensa tranquilidade e serenidade de poder supor a existência de uma certa permanência das coisas. há 30 anos ele combina almoços, jantares, conversas e fura. há 30 anos diz que vai mudar. semana passada me deu outro de seus famosos canos. na semana que vem ele vai mudar, promete.

inspiração

A saudade é uma espécie de velhice. como já disse Guimarães Rosa.

recado no telefone

uma vez eu me casei. outra vez morreu minha irmã. terceira vez eu recebi um recado na secretária eletrônica da irmã da minha mãe: estou ligando para te dar os pêsames, um abraço para você e outro para o seu marido que eu não sei o nome, pois não fui convidada para o casamento.!" fim.
detalhe eu convidei todos os meus tios para o meu casamento.

tia luzia

morreu sozinha.
brigada com todos os filhos.
só uma nora que no final da vida ia visitá-la no asilo.
the end

algodão

eu tinha uma tia, irmã da minha avó, que volta e meia passava uma longa temporada na minha casa. eu como era a caçula, não tinha outra escolha a não ser ir para o chão. dormir no colchão aos pés da cama onde ela dormia. na verdade, ela não dormia, ela roncava. a expressão 'dormia feito um anjinho' definitivamente nunca ornou com ela.

bastava deitar seu corpanzil na cama - era gorda - que já começava o rufar das trombetas anunciando a Ópera do Pesadelo. eram noites pavorosas. e se eu não gostava dela de dia, o que dirá à noite.

tia Luzia tinha uma espécie de adoração pela minha mãe. era italiana, como minha avó Assumpta e todas as suas irmãs, Argia, Anita e Fifina. ela gostava de tricotar e nessas temporadas na barão de tefé, que duravam uns 4 meses, ela não parava nenhum único instante de tricotar, falar mal do ex-marido, dos filhos, dos parentes, de comer e de roncar.

um belo dia, eu tive uma idéia - que na época me pareceu genial - peguei dois tufos de algodão e coloquei dentro do ouvido para abafar um pouco o solo da soprano. dormi melhor. no dia seguinte pela manhã, acordo e desço para tomar o café. lá está ela ao lado da minha mãe, as duas com cara de enterro. no que ela diz para mim: - estou muito magoada com a sua atitude. eu fiz cara de não entendo, ela continuou - pegar um algodão para colocar no ouvido, para não ouvir meu ronco? eu respondi que era difícil dormir com ela. ela fez as malas e foi embora.

eu fiquei tão feliz. foi mesmo uma idéia genial!

domingo feliz

receita de um domingo feliz, um pouco de poesia na rotina. uma comida especial. uma toalha de mesa mais bonitinha, taças de champagne, champagne, spaguetti integralli barilla ao molho de lulas, camarões, alho poró e hortelã. raspas de limão siciliano para temperar. guardanapos de pano para enfeitar. salada fresquinha para começar. uma bola de sorvete de limão para encerrar.
a felicidade é feita no dia-a-dia. nunca é amanhã. felicidade é aqui e agora. namastê. boa semana a todos.

cleo

na minha casa moraram 17 pessoas fora a família. parentes vindos de minas só por uma temporada. um deles, meu primo Carlos Marcelo, veio fazer pós na Escola Paulista de Medicina, mas o que ele gostava mesmo era de ler gibi e de vigiar as vizinhas da frente: a marta e a bia atrás de um binóculo.

Teve também a cléo, irmã dele, muito bonita e atormentada na mesma medida. Eu, que era raspa de tacho, uns quinze anos mais nova do que eles, era fascinada por ela. Estávamos em pleno anos 70. Ela se vestia com longos kaftas bordados, coloridos. Nos olhos, delineadores de todas as cores e cílios postiços.

Um dia ela entrou no banheirão, sim minha casa tem um banheirão todo de mármore, com box redondo para o chuveiro, banheira, pia e vaso sanitários pretos e azulejos cor-de-rosa. pois bem, cléo não saía daquele banheiro e eu espiando pelo buraco da fechadura, abraçada na minha boneca. até que ela abriu a porta chorando dizendo que ia morrer. tinha cortado os pulsos.
desci correndo para chamar a minha mãe.

alvoroço. corre-corre. depois veio a notícia que a cleo estava bem. ufa! a minha musa sobrevivera à sua loucura. mas não por muito tempo. morreu cedo a cleo, aos 44 anos, de um aneurisma.

empacotadora na sears

rua barão de tefé. perdizes ou água branca. ao lado do parque antártica e na rua da antiga sears, onde arranjei meu primeiro emprego. fui empacotadora na seção de brinquedos na época do natal. o dinheiro que juntei, usei nas férias em Águas de São Pedro e trouxe presentes para todos em casa.

no começo não sabia fazer pacotes muito bem. a minha canhotice me atrapalhava. mas as senhoras consumidoras eram boas comigo, me ajudavam. no final do mês eu já estava craque. comecei até a inventar laçarotes. meus pacotes ficaram lindos.

rua barão de tefé. perdizes. minha mãe morou lá 40 anos. até que um dia, um ladrão acabou com seu castelo e ela, rainha que era, começou a murchar. arrancaram a página do 'feliz para sempre'.

onde foram parar as minhas bonecas?

hoje eu acordei com a memória imensa. uma fenda de lembranças que correram feito rio caudaloso. a rua onde morava com meus pais virou comercial. todas as casas - da dona adélia, da dona maria tereza, da lúcia, viraram restaurantes. a da minha mãe também está prestes a virar.

antes de alugar para esse novo inquilino eu fui ver a casa. fazia uns 7 anos que eu não pisava por lá.fui numa quarta-feira hora do almoço com o Sérgio e encontramos os dois corretores.

eles estavam com as chaves, entregues pelo antigo inquilino. é engraçado você não ter as chaves da sua própria casa. abriram o portão e entramos com o carro. de cara, eu vi as memórias em fila. as tantas pessoas que moraram lá, a minha mãe em seu atelier de costura, as empregadas desfilando seus afazeres, eu brincando de música com as panelas e de professora com as bonecas. existem tantas vidas em uma mesma vida.