domingo em família

acordamos cedo, andamos com os cães. sol forte, sem vento.
o céu anuncia a chuva que acontecerá às 13h. mas naquele momento, sol forte, sem vento.
lobinho que está prestes a completar 19 anos se arrasta, com a língua de fora.
eu me arrasto, com o cansaço para fora.
a semana foi tensa, comprida, densa.
às vezes as relações de trabalho nos colocam frente a frente com energias que nos fazem mal.
o exorcismo demora uns dois dias, dessa vez.
mas a respiração salva.
passamos na frente da real, tínhamos cinco reais, compramos uma garrafinha de água de coco.
encontramos os vizinhos do 1B, os que tinham reclamado dos cachorros no prédio.
foram afáveis.
domingo de sol é um convite para a afabilidade.
nos despedimos brevemente depois de palavras vãs

voltamos. pegamos daniel e saímos.
almoçamos no tanuki.
vimos as moças e moços se enfeitando para o pré-carnaval.
pérola negra nas ruas da madalena
nós nos celebramos no barco de sushi e sashimi, dividindo as ovas, o polvo e o camarão.
voltamos.
sentei para trabalhar um pouco.
sérgio deitou para dormir um pouco.
daniel se fechou no quarto para falar no telefone um pouco.
nina e lobinho se deitaram ao meu lado.
estão aqui inteiros.
agora chove. uma chuva de raios e trovões.
exorciso-me.

lendo goethe

comprei um livro uns tempos atrás chamado a doutrina das cores, do goethe. na página 45, encontro um pequeno poema, palavras de um antigo místico alemão (goethe não cita o nome), mas aí vai:

'se o olho não tivesse sol
como veríamos a luz?
sem a força de deus vivendo em nós
como o divino nos seduz?'
lendas gregas
lendas negras
cheias de ditos
malditos
benditos
todos medito
todas me ditam
destinos


alice ruiz

cisne negro

simbólico, marcante, denso, perturbador. adorei cisne negro. acho que a deformação psicológica da protagonista é identificadora. em algum grau, eu também me percebo dupla, me percebo branca e negra. luz e sombra. um dos filmes que mais me impactaram nos últimos tempos.

murilo mendes

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

a linguagem da terra

nesse lugar, a terra fala. no centro, um artista chamado Doug Aitken, fez um buraco de 20 metros de profundidade e lá embaixo instalou alguns microfones que captam, 24 horas por dia, todos os barulhos que o centro da terra faz. esses sons são levados para cima por amplificadores. quando chegamos aí, podemos sentar ou deitar, ou ficar de pé, tanto faz, o que importa é ficar em silêncio e ouvir a voz da terra. tem horas que essa voz é alta, tem horas que sussurra. essa galeria fica em Inhotim, no mais incrível museu que já conheci na vida. Ali, a 60 km de Belo Horizonte.

estrangeira de mim.

tem dias que são assim pra mim, acordo, vivo e deito com uma sensação esquisita. um-fora-de-lugar, um vagar por uma terra que não é minha. usando uma roupa que não me cabe e um sapato que aperta ou escorrega. me sinto estrangeira de mim.

as minhas gerais




estou em belo horizonte a trabalho fazendo uma matéria sobre a capital mineira e inhotim, o museu de arte contemporânea, situado a uns 60 kms daqui. hoje cobri a cidade toda. fui na pampulha, na praça liberdade, na savassi, em lourdes, em mangabeira. zanzei por muitos lados. fazia muito tempo que eu não vinha para cá, e quando eu costumava vir, era meninota e tinha olhos só para dentro de mim, não para o meu redor. hoje vejo a cidade ineditamente. relembrando talvez um ângulo ou outro, mas sempre sentimentalmente - "ah, aqui é perto da casa da Maria Helena", "uma vez eu vim aqui nesse clube", 'será que a tia terezinha mora aqui perto?' e a clio?" - enfim, memórias gerais dos meus grandes sertões, sem nenhum traço objetivo, turístico ou histórico.

por isso digo que hoje eu vi a pampulha pela primeira vez. pela primeira vez, vi a igreja de são francisco de assis e o museu de arte, duas obras do niemeyer, dos anos 40, esplendorosas. aqui estão alguns olhares inéditos para a minha cidade de infância, cidade de toda família de meu pai.

mr darcy

quando eu era pequena adorava ler romances da "Biblioteca das Moças" uma coleção que pertencia à minha mãe e que trazia aquelas histórias açucaradas de amor, geralmente previsíveis, apesar de deliciosas. e assim, de um final feliz para outro eu fui construindo uma imagem muito romântica e idealizada do amor.

lembro de quando assisti "E o Vento Levou" a primeira vez. foi com meu pai e minha mãe no Cine Comodoro, na Avenida São João. (Hoje o local é templo de alguma igreja evangélica). Foi um acontecimento, o filme de 3h30 de duração teve intervalo no meio - lembro até hoje do meu pai indo comprar pipoca e refrigerante enquanto minha mãe e eu ficamos lá sentadas olhando para todas as outras pessoas. Eu me apaixonei pelo personagem e ator _ Rhett Buttler e  Clark Gable_ mas uma paixão intensa e imensa que, lembro, me deu até febre.

anos se passaram, nunca mais vivi uma paixão assim tão forte por nenhum outro personagem até assistir a semana passada Orgulho e Preconceito, a série da BBC, com Colin Firth fazendo o papel do Mr Darcy. a série é incrível, super bem-feita, seis capítulos, com atores do teatro inglês. conclusão: virei uma menina novamente, absoluta e irremediavelmente apaixonada pelo personagem e ator.