memórias do teto

quando eu era adolescente tinha dois sonhos, viver no rio de janeiro nos anos 50 e viver na Inglaterra em algum tempo bem passado. eu achava que havia pertencido àqueles dois mundos em outras encarnações das memórias.

mundos tão distintos.

um solar, bossa nova, nelson rodrigues, copacabana, as velhinhas e velhinhos, com suas roupas engraçadas e cabelos coloridos, tom jobim e vinicius ali mesmo na esquina de ipanema, o juba e o lula do Armação Ilimitada e todos os surfistas seus amigos, paquetá e a moreninha, a urca, a gávea, o jardim botânico, a corte.

outro londres, stonehenge, agatha christie, cornuália, merlin, todos os cavaleiros da távola redonda enfileirados, o santo graal, as ruazinhas medievais, o frio, a lareira, os cakes (não os cup cakes que naquela época nem existiam), as geléias, as tias  personagens dos livros de mistério, sherlock holmes, todos os verbos de inglês que eu tinha que decorar e estudar.

eu lembro que deitava na cama e me transportava literalmente para esses dois mundos. nenhum outro. só esses dois universos, com todos os seus habitantes e atmosferas. neles,  vivia minhas histórias. criava encontros, personagens, encantos.

disso sinto falta. daquela capacidade infinita de olhar para o teto e sonhar. imaginar, criar.
o teto era um portal.

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