o tempo

tantas mudanças em tão pouco tempo.

quando comecei a trabalhar, em 1986, ainda usava máquina de escrever, olivetti lettera 82. trabalhava numa produtora de vídeo, e fazia produção e roteiros. era tudo na máquina, no telefone e nas conversas com as pessoas que ficavam ao meu lado. não tinha essa facilidade de pesquisa que é a internet. quando precisava me aprofundar em algum assunto, tinha que ir na Livraria Cultura do Conjunto Nacional ou na Biblioteca Mario de Andrade. ali, pesquisava livros e mais livros. muitas vezes era viagem perdida, não encontrava o que estava procurando, mas como eu gostava daqueles programas. aprendia tantas outras coisas.

e engraçado como dava tempo. eu trabalhava as 8 horas por dia. eu pegava ônibus para ir pro trabalho, que ficava no Itaim. pegava ônibus para voltar para casa, que ficava em Perdizes. às terças e quintas, fazia jazz depois do expediente e chegava em casa e jantava, conversava no telefone, lia, desenhava.... tudo rolava. isso sem falar nos dias que eu ia direto pro cinema, no Belas Artes da Consolação. depois pegava o ônibus na Paulista para ir para casa.

quando eu entrei na agência de propaganda - mudando do jornalismo para publicidade - eu trabalhava na criação em uma salinha só minha e do Rodrigo, meu dupla. na agência havia várias salinhas, cada uma com uma dupla de criação. ali criávamos nossos anúncios, campanhas, folhetos e quando tinha
um projeto maior, o diretor de criação juntava as duplas na sala de reunião e ali todos davam suas ideias. cada redator levava sua máquina de escrever e os diretores de arte levavam seus blocos de papéis A3, seus lápis, grafites, canetas coloridas, pastéis e ali começava a se esboçar os desenhos e textos. depois essas ideias iam para o estúdio de ilustração e finalização, uma sala enorme com 18 pessoas. tinham uns dois ilustradores-chefe, seus assistentes, os past-ups, os diagramadores, etc... fiquei nessa agência durante 5 anos... e nesse tempo, vi chegar os computadores, vi o estúdio diminuindo, e quando saí, no estúdio só haviam duas pessoas, o chefe, o Ed, que tinha aprendido a mexer no computador e o ilustrador, que se chamava Waltinho. esse era um craque no desenho. todos os outros foram demitidos.

hoje eu trabalho mais do que 8 horas. raramente vou à Livraria Cultura do Conjunto Nacional durante o expediente. faz anos que não piso na biblioteca Mário de Andrade. não faço mais jazz às terças e quintas, também não consigo ir ao cinema durante a semana e mesmo assim me falta tempo.

onde foi que o tempo foi parar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário