o melhor da festa é esperar por ela

lembro que quando era pequena adorava ver minha mãe se preparando para viajar. eram os dias que ela ficava mais leve e mais feliz. eu adorava porque percebia em seu jeito um acolhimento que normalmente não havia. percebia um estar-de-bem-com-a-vida que contagiava a todos em casa. eu torcia para que suas viagens fossem frequentes, para poder desfrutar dessa amorosidade do ar. uma atmosfera de antecipação, sem ansiedade, mas com entrega. sem correria, porque ela sabia que a viagem estava lá no alcance da vida dela.

hoje tal mãe, tal filha, sinto o mesmo que ela. sou igual. é só saber que minha viagem está chegando que já vou me aerando, me encho de um ar fresco e perfumado. compro guias, fico horas navegando na internet em busca de dicas de passeios. vejo mapas e separo um caderno que será meu companheiro.

e aí, nesse mexe-e-remexe de livros, cadernos, guias, encontro um que me chama a atenção especialmente: Teoria da Viagem: poética da geografia, de Michel Onfray, um pensador francês contemporâneo que escreve lindamente, poeticamente e facilmente sobre filosofias e outros pensamentos profundos. Ele mergulha em seu assunto com tanta maestria que é um enlevo compartilhar das suas palavras.

aí me deparo com o indice, que poesia:

Intrada
{querer a viagem}

Antes
{escolher uma destinação}
{aumentar o desejo}

Entremeio I
{habitar o entremeio}

Durante
{realizar a amizade}
{organizar a memória}
{inventar uma inocência}
{deparar com a subjetividade}

Entremeio II
{reencontrar um lugar}

Depois
{cristalizar uma versão}
{dizer o mundo}

Coda
{considerar uma continuação}




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