o farol da rebouças com a brasil

a diversidade dos gêneros humanos se poliniza numa das esquinas mais lotadas de carros de são paulo. ali fatalmente há congestionamentos longos. filas indianas de automóveis de todas as cores e tipos. a maioria deles com apenas uma pessoa. nesse ambiente de consumidores potenciais, nada mais propício para vender utensílios úteis, como marionetes, mapas gigantes da américa latina, brasil e rússia, panos de prato com sianinhas, incensos, campanha antidrogas, campanha pró-idosos, campanha contra senadores corruptos. campanha pelos cegos, pedido de ajuda "estou desempregado, preciso sustentar minha família", etc e tais. um dia desses eu era uma dessas consumidoras potenciais e pela minha janela desfilou vários vendedores. primeiro um hare krishna que me abordou com uma coleção de livretinhos que falavam sobre a maravilha da macrobiótica e depois com os já citados incensos. "não, obrigada!" depois veio o vendedor de mata-mosquitos, uma espécie de raquete de tênis eletrizada que você liga e esturrica os pobres dos pernilongos. "não, obrigada". depois veio o ceguinho da laramara, uma ong, ajudado por uma moça. "desculpe não tenho trocado." passou também o cara com rosas vermelhas, outro com copos-de-leite, e por fim, um monge franciscano. sim, daqueles com carequinha raspada e túnica marrom. queria me vender não sei o quê. fiquei curiosa. o sinal abriu. a buzina de trás tocou e eu acelerei. mas pelo retrovisor deu para vê-los todos juntos - o hare krishna com o monge e o cara dos mapas, o florista, o cego, o vendedor da raquete assassina de mosquitos - todos eles conversavam na calçada do lado direito da Avenida Brasil. Brasil, meu Brasil brasileiro. Vou cantar-te nos meus versos.

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