inventário de um domingo

15 graus lá fora, um ventinho que sopra fininho como a voz aguda de uma cantora lírica. eu aqui dentro, nina aos meus pés dormindo, lobinho aconchegado em seu paninho. de vez em quando um deles se mexe ou faz barulhos como quem está sonhando. se eu me levanto, eles me acompanham com os olhos, principalmente ela. se eu fico aqui sentada trabalhando, eles se esquecem da vida. eu tento me concentrar. tenho dez trabalhos para resolver hoje. ao meu lado uma montanha de livros esperando para ser encaixotados, revistas, caderninhos, folhetos, catálogos de lojas, contas a pagar, boletos bancários, esmaltes, acetonas, uma bolinha para massagear as mãos, um são jorge que tinha quebrado a cabeça mas o sérgio colou, duas canecas com as alças quebradas cheias de lápis e canetas e um vidro vermelho do perfume humor que ganhei das meninas da natura. à minha frente a tela do computador sendo preenchida por letras, palavras, frases. sou uma invenção de mim mesma. minha vida está cheia de objetos. minha cabeça lotada de pensamentos. sou uma profusão. daqui a pouco almoço com o que tem na geladeira. daqui a pouco sérgio chega de seu atelier. daqui a pouco o domingo termina e começa a segunda. daqui a pouco amanhece outro domingo. daqui a pouco, verão.

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