imagens de mim

hoje abri a caixa de fotos da mamãe e lá iniciei uma viagem ao passado. meu, de meus pais, tios, irmãos. vi o meu avô e minha avó em foto oficial. ela tão bonita, e ainda não endurecida pela vida. vi meu pai de terno branco andando por Belém do Pará com um amigo. Devia ser final dos anos 40. Vi minha mãe de espingarda em punho para matar os passarinhos - ela adorava atirar! - vi minhas tias elegantes em frente ao Pão de Açúcar. Vi a mim nos meus brinquedos de infância. Vi uma festa que minha mãe preparou para mim e minhas amiguinhas do Externato Assis Pacheco, ao fundo um pedaço do sofá de curvim branco que colori com canetinhas sylvapen. vi as fotos oficiais do colégio. minhas amigas de antigamente: Syomara e Marineide. vi, vi, revi. joguei algumas fora - de pessoas que não tenho idéia de quem são, fotos repetidas, parecia até uma neurose - havia 12 cópias da mesma foto. enfim, uma limpezinha sempre vai bem. conclusão: estou feliz depois desse mergulho nas imagens do passado. ajudam a explicar o presente.

arnica x antiinflamatório

arnica é natural, mas seus efeitos são mais lentos.
antinflamatório é artificial, mas seus efeitos são pá-pum.
a escolha depende da paciência de cada um.

a vida com o pé para cima

nesses dias de imobilidade, percebo quantos movimentos realizo a cada dia e não dou a menor atenção! subir e descer escadas por exemplo. talvez faça isso umas duzentos vezes ao dia, sem a menor consciência. mas com o pé imobilizado, eu penso duas vezes antes de subir os degraus, fico guardando a vontade de ir ao banheiro, porque é um trabalho imenso, subir sentada, apoiando o corpo nos braços e levantando a perna com a charmosa bota imobilizadora de modo que ela não toque nos degraus. mas está sendo terapêutico tudo isso. por que engessar a perna de novo? a mesma, pela terceira vez! enfim... preciso mesmo aprender a olhar por onde piso.

200 reais

tudo é duzentos. qualquer servicinho . trocar lâmpada? duzentos. converter o fogão para gás de rua? duzentos e dois reais. instalar a coifa? R$198,00 (quase duzentos). arrumar o box? duzentos. as persianas? trocar e alinhar? 400,00 (duas de duzentos). instalar luminárias? duzentos. estou com uns 10 cheques de duzentos voando por aí.

o incrível caso da bota imobilizadora

ontem. 15h30 mais ou menos, abro a porta da rua para o lobinho descer e aliviar sua bexiga, no que ele foge para a rua - o portão estava meio aberto e ele não teve dúvidas - eu saí correndo atrás e torci o pé na escada. conclusão: torção, estiramento dos ligamentos e gesso por uma semana. repouso total. sem pensar em colocar o pé no chão, diz o médico.

quando ainda estava no pronto-socorro fui encaminhada para a sala do gesso. lá dentro um simpático enfermeiro começou a preparar o meu gesso. e enquanto rodeava gaze pela minha perna, desandou a falar:

- o médico não falou para você colocar a bota imobilizadora?
- sim, ele disse que eu poderia usar, mas falou que custava R$ 250,00, e, por isso, achava que não valeria a pena.
- custa R$ 250,00 aqui no hospital, lá fora custa apenas R$ 105,00.
- é... aí já começa a ficar melhor.
- com a bota é muito melhor, você pode tirar, fazer compressa com gelo, que é um antiinflamatório natural e muito potente, pode lavar o pé, fazer massagens.
- mas eu acho melhor não mexer muito, afinal o médico disse que quanto mais imóvel eu ficar, melhor.
- mas a bota imobilizadora deixa o pé imóvel. é ótima, não tem contra-indicação. e uma coisa eu te digo: quantos dias o médico falou que você vai ficar com o gesso?
- uma semana
- de jeito nenhum, pela aparência da sua torção vai ficar muito mais que uma semana
- credo, vira essa boca para lá
- eu sei o que estou falando. tenho experiência. e ainda mais pelo seu jeito, acho que você é agitada, não é?
- sou
- não consegue ficar parada, não é?
- não
- pois bem, a bota imobilizadora é a melhor opção. não tem nem dúvida, se você ficar com o gesso pode escrever aí uns 40 dias, com a bota vai ser só uns 20 dias.


nisso, ele termina de colar o último esparadrapo e, quando estamos nos preparando para deixar a sala, ele se dirige ao meu Sérgio e pergunta:
- qual é o seu nome?
- Sérgio
- aha! meu xará!!!
e tira um cartãozinho do bolso e estende para o Sérgio.
- aqui está! se vocês quiserem comprar a bota imobilizadora, esse telefone é o melhor preço da praça e entrega em casa no mesmo dia, sem custo. é só falar comigo mesmo!
abre a porta para nós
- e lembre-se, com a bota imobilizadora é muito melhor. tchau e até a semana que vem.

detalhe, no cartãozinho estava escrito uma relação de produtos ortopédicos e o nome dele bem grande. centralizado.

fui feliz para sempre

primeiro encontro. domingo, 18 de um julho. frio. vinhos. amigos. e entre as palavras e os silêncios ele me olhou para sempre.

a biografia de uma reforma

é incrível como no começo tudo anda rápido. as paredes caem a 300 km/h, os ambientes mudam totalmente ao som das marretas. aí você pensa, "nossa tudo vai ser muito mais rápido do que eu imaginava". porém, à medida que os dias passam, tudo vai parando, como as tardes de domingo em cidades de interior. nada acontece. os tilojos que caíram, ainda estão lá amontoados, esperando pela caçamba. se reparar bem, você percebe que as coisas estão andando, mas é dentro das paredes. tubos e conexões vão sendo colocados nas vias cavadas. a obra acontece naquele interior obscuro. aí mais alguns dias passam e as coisas voltam a se mexer. o chão começa a ficar mais liso, as paredes de tijolos ganham as primeiras mãos de tintas e aí vai chegando o finalzinho. e é quando tudo ralenta de novo. faz duas semanas que parece que nada anda. e por mais que você saiba que o chão de madeira foi raspado, que os móveis estão sendo pintados, gaveta por gaveta, estante por estante, que o chão do banheiro foi impermeabilizado, parece que está tudo como há 15 dias. e é nessa fase que eu estou. dia sim dia não vou na obra do meu apartamento e fico me perguntando: será que vou conseguir me mudar no dia 29? depois eu conto.

inventário de um domingo

15 graus lá fora, um ventinho que sopra fininho como a voz aguda de uma cantora lírica. eu aqui dentro, nina aos meus pés dormindo, lobinho aconchegado em seu paninho. de vez em quando um deles se mexe ou faz barulhos como quem está sonhando. se eu me levanto, eles me acompanham com os olhos, principalmente ela. se eu fico aqui sentada trabalhando, eles se esquecem da vida. eu tento me concentrar. tenho dez trabalhos para resolver hoje. ao meu lado uma montanha de livros esperando para ser encaixotados, revistas, caderninhos, folhetos, catálogos de lojas, contas a pagar, boletos bancários, esmaltes, acetonas, uma bolinha para massagear as mãos, um são jorge que tinha quebrado a cabeça mas o sérgio colou, duas canecas com as alças quebradas cheias de lápis e canetas e um vidro vermelho do perfume humor que ganhei das meninas da natura. à minha frente a tela do computador sendo preenchida por letras, palavras, frases. sou uma invenção de mim mesma. minha vida está cheia de objetos. minha cabeça lotada de pensamentos. sou uma profusão. daqui a pouco almoço com o que tem na geladeira. daqui a pouco sérgio chega de seu atelier. daqui a pouco o domingo termina e começa a segunda. daqui a pouco amanhece outro domingo. daqui a pouco, verão.

visões do documentário 2

curso na casa do saber: visões do documentário, com palestras de quatro grandes nomes desse 'gênero' de cinema - eduardo coutinho, carlos nader, cao guimarães e joão moreira salles.

eles compartilham comigo o gosto pela vida dos outros.

visões do documentário

cao guimarães, documentarista e artista plático mineiro, diz que o documentário é o cinema do descontrole. você não tem um roteiro para te guiar, é ligar a câmera e ver o que a câmera te dá. é assim como na vida. por mais que se procure fazer um roteiro, não tem como prever as situações.
nossa vida é o documento da nossa história.

o fio das missangas

" A missanga, todos a vêem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo."

Mia Couto, escritor moçambicano.

o tempo do meu apartamento

está quase pronto. quer dizer ainda faltam 15 dias de reforma mas a Juliana, minha querida amiga e arquiteta, disse que tudo vai estar pronto para o dia 29. às vezes acho que chega o natal mas não vem o 29 de maio.

nunca tão poucos dias demoraram tanto a passar. uma prova de que o tempo é mesmo relativo. depende do nosso entusiasmo e entrega e ansiedade e vontade de que a página vire e mude de capítulo. às vezes quando o queremos lento, ele bate rápido feito asas de beija-flor. quando queremos que se apresse, ele dá uma de pangaré e caminha lentinho. tem horas que até empaca.

estou tão feliz pelo tempo beija-flor que breve virá! é isso. já feliz hoje. nesse tempo pangaré.

made in copy

acho incrível esses sites de tendências que pululam por aí e pelos quais se paga algumas centenas de milhares de dólares por ano para saber que tipo de texturas estão se usando nos tecidos dos sofás em dublin; ou qual a cartela de cores da suvinil de amsterdã ou ainda qual a novidade nas embalagens de shampoos anti-pulgas para cachorros. um deles é o wgsn ou world global style network. é bacana, porque tem gente espalhada no mundo todo, andando pelas ruas em busca de novas tendências estéticas. são raios x do novo que compilam seus furos de reportagem em uma linguagem simples e clara. se, por um lado, eu acho legal, afinal chega tudo mastigado para você - uma espécie de clipping das novidades - por outro lado acho um problema pois as pessoas não usam essas informações como referência ou inspiração para criar, mas sim para copiar. e aí é que está o xerox da questão. é por isso que vivemos num mundo de cópias tão descaradas e - muitas vezes - absurdamente mal-feitas.

um dia desses uma amiga foi em uma famosa loja de moda procurar um vestido para um casamento. chegou lá e viu um vestido exatamente igual a outro que ela havia visto em outra loja na semana anterior!! só mudava o tecido e uma correntinhas extras que a estilista costurou, para aliviar o arrependimento da cópia. pois bem, a minha amiga pediu para experimentar o vestido, no que a vendedora pega um interfone e fala para a moça do segundo andar: - desce aquele vestido Stela Mc Cartney, por favor? Cor creme, tamanho 38. Detalhe a loja não era da Stela Mc Cartney - mas o desenho do vestido parece que sim. Ou seja, as duas confeções copiaram a criação da filha do ex-beatle. ora, ora, ora, aí já é o fim, não é mesmo. assine por favor em duas cópias. precisa reconhecer firma? não, não precisa, vale cópia simples, mesmo.

iansã


sempre gostei de vermelho. sempre gostei das religiões africanas ou afro-brasileiras.
uma vez tirei búzios e saiu que sou filha de iansã - a rainha dos ventos e dos mortos.

dizem que:
"IANSÃ também chamada OYA, é Orixá dos ventos e raios.

Além disto, e Senhora dos Eguns (espíritos dos mortos), os quais controla com um rabo de cavalo chamado Eruexim - um dos seus símbolos.

Guerreira, a mais agitada das Orixás femininas, foi esposa de Ogum e, posteriormente, a mais importante esposa de Xangô. é irrequieta, autoritária, mas sensual, de temperamento muito forte, dominador e impetuoso.

É dona dos movimentos (movimenta todos os Orixás), em algumas casas é também dona do teto da casa, do Ilê. Suas cores são vermelho e branco, marrom terracota ou ainda, rosa.

De acordo com uma lenda Oyá Omo Mésàm (a mãe dos nove filhos) derivou o nome de Iansã.

Sua saudação é EPA HEY !

Eu me identifico com ela. Viva Iansã.

No sincretismo é Santa Bárbara



nanã


nanã é orixá da maturidade para os povos iorubás. para ela se pede a benção.

dona diva

conheci caqui na casa da dona diva. ela era vizinha nossa na barão de tefé e mãe da minha amiga lúcia. almoçar na casa dela era sempre uma novidade. cozinheira de mão cheia, fazia o almoço de todo dia com disposição de fim de semana. nunca vou me esquecer no dia que ela colocou caqui na minha frente - foi uma revolução para o meu paladar. na minha casa não havia essas invenções. éramos tradicionais até no feijão com arroz, como bons e velhos originários das minas gerais. quando experimentei aquela fruta de gomos translúcidos, delirei. cheguei em casa e pedi para minha mãe comprar. mas o engraçado era que o caqui lá de casa não tinha o mesmo gosto da casa da dona diva. grande mulher, ela. morreu jovem e de vez em quando me faz falta.

um bom papo faz bem para todo mundo

john lennon

ele acaba de conhecer o paul mcartney, em liverpool. inglaterra. ele é líder dos Quarrymen. o paul só tem 15 anos. o john tem 17. os dois ainda vão viver muito juntos. eles ainda não sabem disso. estou lendo a vida deles. eles ainda não sabem disso.

enxurrada de vida

às vezes a vida vem tão grande que parece uma enxurrada, sou arrastada pela correnteza dos fatos cotidianos, dos compromissos que tomam as horas. estou sendo levada pela rotina. e não consigo parar.

obra de sérgio lucena em wall paper